Há tempos não aproveitava o domingo para almoçar na Cantina 1020, no Cambuci.
Tenho gratas lembranças do lugar.
É sempre um mergulho no túnel do tempo. Seja pelo fato de percorrer as ruas tristes do bairro onde nasci. Seja pelos pôsteres de antigas seleções de futebol da Itália e dos diversos times campeões do Palmeiras. Seja pela saudade do Velho Aldo, meu pai, que frequentava o restaurante ao lado dos amigos para celebrar o nada e o tudo da vida.
A bem da verdade, a italianada se reunia para saborear uma perna de cabrito com brócolis, uma das especialidades da casa.
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A cantina é de uma simplicidade a toda prova.
A bem da verdade, pouco mudou desde os idos anos 50.
O cardápio, idem. Lá estão as massas de fabricação própria, os molhos caseiros, o anti-pasto e a tal perna de cabrito que o pai tanto gostava, entre outras especiarias.
Em dias específicos, como o de ontem, é possível encontrar dois ou três músicos típicos a percorrerem as mesas tocando os clássicos da música italiana.
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Meu pai dizia que era um pedaço da Itália em São Paulo.
O velho ser orgulhava da ascendência peninsular.
Ficava feliz quando diziam que era um típico “calabrês”, pelo gênio turrão e calado.
Desconfio que, ontem, o pai ficaria feliz com o repertório que ouvimos, mesmo com as duas exceções musicais.
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Com alma e coração, os rapazes tocaram “Ronda” e “Volta Por Cima” – esta última com uma levada tangueira, que ficou bem legal e apropriada.
Todos aplaudiram muito ao final de cada uma delas.
Foi uma singela homenagem a Paulo Vanzolini, o compositor de ambas, que lá, em uma mesa do fundo, almoçava com a família.
Valeu pela emoção.
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