Sou um cara do século passado.
É o que sempre digo aos meus interlocutores mais jovens – e mesmo a alguns contemporâneos quem se imaginam garotões de tudo.
Um deles, o Cebola, chegou a tatuar um tribal no dorso do braço.
Como não o via há tempos, ao reencontrá-lo dia desses, segurei o espanto. Mas, confesso, fiquei curioso para saber o motivo de tal façanha.
Outro amigo, o Escova, dias depois pôs fim ao mistério, da maneira mais óbvia possível.
— Mulher nova, meu caro.
E arrematou à la Nélson Motta, em versos que a voz de Marisa Monte consagrou:
— O que é que a gente não faz por amor?
Escova, como os meus caros cinco ou seis fiéis leitores bem sabem, é o nosso Dom Juan das quebradas do Sacomã. Seu cabelo acaju é prova inconteste de que conhece os mil e um expedientes na arte da conquista.
— Estou na minha sétima geração de mulheres, me confidenciou o malandro, enigmático e satisfeito consigo mesmo.
— Como assim, perguntei. Sou meio tapado, demoro entender (in)certas situações.
Escova riu da minha ignorância. Não entrou em detalhes, mas fez um apanhado geral do que quis dizer.
— Como fui um garoto precoce, sempre me enroscava com mulheres mais velhas que eu. Hoje essas senhoras devem estar pela casa dos sessenta e tantos. Com o passar dos anos – e põe passar dos anos nisso – fui mantendo meus romances com garotas na faixa dos 20 anos, pouco mais, pouco menos. Como profundo conhecedor do assunto, posso dizer que as mulheres são “geracionalmente” diferentes a cada cinco anos. Daí, é só fazer a conta…
Não me dei ao trabalho de cálcular – e peço ao caríssimo leitor que também não o faça, pois, segundos depois, tive a prova inconteste de que Escova não mentia, nem exagerava.
Eis que surge uma garota de seus 19, 20 anos à nossa frente à procura de quem, de quem? Óbvio, que era do Escova, o Dom Juan das quebradas do Sacomã. Ágil, levou a moça para um canto, conversou baixinho o que tinha que conversar e se despediu na maior intimidade:
— Então, ta… Te vejo no Face…
Nós, os veteranos da turma da velha redação de piso assoalhado da rua Bom Pastor, quase aplaudimos de pé o amigo tão por dentro deste admirável mundo novo.
Modesto como de costume, Escova preferiu confessar a verdade, nada além da verdade:
— Calma pessoal, que essa é minha sobrinha neta, que veio me convidar para uma baladinha. O filho dela vai ser batizado, sabe como é, né? O tiozão aqui não pode faltar.