Um amigo, o Santista, resolveu pedir um help a este inofensivo escriba.
“Ao menos você, em seu blog, mude de assunto, pelo amor de Deus. Fale de outra coisa que não seja o chocolate que o meu Santos, de tantas glórias e tradições, tomou no domingo passado. Não aguento mais ouvir essa lengalenga”.
Como se dizia naquele velho botequim da rua Bom Pastor, esquina com a Greenfeld, ondo o Sacomã torcia o rabo e o Fábrica-Pinheiros bufafa e rangia na curva, “um amigo é para o outro”. Então, tá. Resolvido. Não se fala mais nisso…
Até porque nosso ponto de encontro não existe mais. Virou Estação Sacomã do Metrô e, quando nos encontramos, é sempre num bar alheio, com garçons desconhecidos e neutros quem sequer sabem das nossas aventuras em tempos idos e havidos, quando nos imaginávamos os tais e o Brasil ainda tinha o melhor futebol do mundo.
Ops, quase volto ao assunto.
Melhor me policiar – até porque o Santista é um dos meus fiéis cinco ou seis leitores.
E aqui, como na padoca da Bom Pastor com a Dom Lucas Obis, outro ponto de encontro da rapaziada que também desapareceu no fervilhar de prédios no Ipirangão velho- de-guerra, o freguês sempre tem razão.
Mais do que razão, o Santista é mesmo um sentimental.
Ele está morando em Belo Horizonte de uns tempos para cá. Casou, de novo – e longe das nossas más companhias, a coisa tende a dar certo. Disse estar bem, mas sempre lembra dos amigos Nasci, Escova, Made, Cebola e este trapalhão que vos escreve diariamente. É bem verdade que a fauna era maior e bem diversificada, dependendo da hora e do dia.
— O bom de morar em BH é que pude ver o novo show do Chico Buarque que só vai chegar em São Paulo em março/abril do ano que vem – contou-me todo prosa ao telefone.
Me desfiz em perguntas sobre o espetáculo e lamentei que por aqui – dizem – os ingressos já estão esgotados. Santista foi generoso nos detalhes. Destacou que um dos melhores momentos do show é quandoo carioca Chico homenageia o rapper paulista Criolo que deu uma nova roupagem para a emblemática “Cálice” (parceria Chico/Gilberto Gil).
— Ele até improvisou um rap, acredita?
Claro que acreditei.
Com o perdão pela comparação, mas Chico é o Messi da nossa música popular. Sua obra – um verdadeiro Barcelona, de tão envolvente – deveria ser matéria obrigatória para estudo e conhecimento das novas gerações de boleiros; digo, de brasilerios. Basta uma audição do recente CD, Chico, para se ter a exata dimensão do que estou a lhe dizer.
Só não acreditei quando, horas depois, via torpedo, recebo o que imagino ser a letra (ou parte dela) do rap buarquiano:
“Era como ser o camarada dissesse:
Bem-vindo ao clube, Chicão
Bem-vindo ao clube.”
“Valeu, Criolo Doido
Evoé, jovem artista
Palmas para o refrão
Do rapper paulista.”
É Santista, a gente sempre se surpreende com um gesto de carinho e o fino toque de bola do Xavi e do Iniesta
Vale o lema: um amigo é para o outro – o Nasci costumava juntar as letras só para zoar com a gente: “um amigo é potro”, lembra?
Valeu – e, neste espaço, ao menos neste ano, não se fala mais naquele time catalão.
Abraço.