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Cronistas e poetas

Desconfio que sou um dos raros ‘dinos’ do mundo que tem por hábito recortar e guardar crônicas que são publicadas em jornais e que, de um jeito ou de outro, me encantam e fazem a minha cabeça.

Do Carlos Heitor Cony, guardo todas. Acumulam-se em pastas e caixas ao lado dos livros de Rubem Braga. São os meus preferidos, juntos ao poeta gaúcho Mário Quintana.

Mas, há de outros autores, digamos, contemporâneos: Ruy Castro, Ignácio Loyola Brandão, Veríssimo, por aí vai…

Meu filho já me alertou o quanto há de ultrapassado nessa rotina.

— Tem tudo online, pai.

Dá uma trabalheira danada, confesso.

Quase sempre deixo acumular semanas sem recortá-las.

Daí, só com denodo, coragem e muita – mas, muita – paciência enfrento a dura jornada.

Já pensei em desistir várias vezes.

Na hora H simplesmente não consigo.

Sou mesmo um cara do século passado, disse isso dia desses e hoje repito.

Nessa altura do campeonato, há poucas coisas na vida que me são mais prazerosas que ler e reler um velho e bom texto, leve e breve, capaz de me emocionar e, de alguma forma, me transformar a ponto de ainda enxergar o mundo com olhos de poeta.

Sim, porque os cronistas são assim. Poetas que se disfarçam e escrevem de um jeito escorrido, bom de se ler em se maravilhar.

Querem um exemplo?

Vejam o que Cony escreveu recentemente sobre o presidente Lula:

“Pois a cara de Lula é a maior prova de que ele vai tirar de letra o seu problema atual. Nos tempos da barba, ele parecia cansado, esbaforido, chegava às vezes a parecer sinistro. Agora não. É um rosto de quase adolescente, doce, uma garantia de que apesar de tudo, está de bem com a vida.

Que continue assim. Quando as barbas voltarem, voltarei a falar mal dele.”