Folheio os jornais antigos para saber o que de importante – importante mesmo – eu perdi nesses dias de ócio nos confins da Serra da Bocaina, onde não há sinal de celular e a internet sequer trisca. De uma forma ou de outra, as notícias que pipocam aqui e ali são as que já sei, via TV e/ou rádio.
Chama minha atenção, no entanto, a declaração de Ariano Suassuna, semanas atrás, ao participar de palestra em Brasília:
“Todo escritor é um mentiroso”.
Eu, que gosto de brincar de enfileirar uma letrinha atrás da outra e contar e recontar uns causos, não deixo de lhe dar um bom naco de razão. Fico remoendo a bem-humorada afirmação e tento, a meu modo, entendê-la e, permitam-me a ousadia, explicá-la aos meus caríssimos cinco ou seis leitores.
No rasante das coisas, o escritor não inventa nada. Sensibiliza-se com as histórias que vive, vê e/ou ouve e, ao contá-la, usa uma forma mais imaginativa de formatá-la e, no bom sentido, ‘vendê-la’ ao leitor.
II.
Vejam, por exemplo, como o grande Rubem Braga, em trecho de uma de suas deliciosas crônicas, se apresenta a São Pedro:
“Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa: Eu sou lá de Cachoeiro…"
Não é uma forma bonita de se enaltecer a cidade onde se nasceu?
(O saudoso Braga era capixaba de Cachoeiro de Itapemirim.)
III.
Li recentemente em uma crônica de Luiz Fernando Veríssimo (Frases) outra observação que me parece concernente ao tema de hoje:
“Com o passar do tempo, todos nós viramos filósofos”.
Faz todo o sentido.
IV.
Um tanto nessa linha, a busca pela racionalidade e o encantamento de uma narrativa, Carlos Heitor Cony é direto e reto na junção de dois assuntos tão atuais: a religião e o futebol:
“Deixei de acreditar em Deus no dia em que vi o Brasil perder a Copa do Mundo no Maracanã”.
Do maior de todos, Machado de Assis, me delicio com a histórica fala do personagem/protagonista de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”:
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”
V.
Permitam-me uma inconfidência. Nem os rigores da minha formação em jornalismo, coíbem minhas ‘viagens’ quando batuco aqui, no blog, casos e causos.
Exemplo chinfrim, mas exemplo é o texto de hoje. Que, em essência, só pretende reverenciar ainda que tardiamente a memória do grande Gabriel Garcia Marquez – e a verdade única e absoluta de todo o escritor.
Ele a definiu assim:
“Quando não escrevo, morro. Quando escrevo, morro também!”