Divido com uma amiga professora as impressões sobre o desafio de estar em sala de aula. Como conquistar a atenção da meninada sempre às voltas com o celular e o ronronar das conversas paralelas.
Chega a ser uma concorrência desleal.
Outro amigo, o Danielo, já afastado das lides acadêmicas, me disse certa vez – assim que cheguei à universidade – do rito cruel que, nós, professores, enfrentamos na Universidade.
“A gente envelhece; eles (os alunos), não”.
Explicou e eu agora lhes repasso: a cada ano, uma nova fornada de jovens de 17, 18 anos, enfrenta o vestibular e nos diz “olá”, aqui, no campus. As turmas se renovam – e a gente, sem escapatória, soma uma primavera a mais na nossa humilde existência.
– Tem gente que entra com 30 anos para dar aula, e quando se dá conta já virou os sessentinha, beira os setenta. Ele envelheceu, o mundo mudou e os jovens também.
“A solução – ensinou o amigo, naquele dia – é ficar atento às novidades. Às inovações, como hoje se diz. Tentar andar junto com a turma, mas ter claro que não somos um deles”.
Cito o exemplo do Danielo à minha interlocutora. Que sorri e se diz saudosa do amparo que o velho mestre nos dava, sempre que surgiam as tais “pedras no caminho”.
Digo que ele também deve estar com uma saudade danada de tudo isso aqui, das conversas na sala dos professores, do papo descontraído na horinha do café e, sobretudo, dos alunos.
(…)
Fez-se silêncio por alguns segundos, longos segundos – o suficiente para que nos embrenhássemos, creio, em digreções sobre a bênção de continuarmos por aqui.
Mesmo que, vez ou outra, lamentemos isso ou aquilo:
“Ah! Os alunos não leem os textos que indico”.
“Eles não estão nem aí com nada”.
“Não prestam atenção no que digo”.
Por fim, relevamos, pois sabemos bem que o magistério é mesmo uma missão. E um barato que nos renova a cada manhã…