Juro que não gostaria de, logo no início do ano, colocar minha colher de pau nesse vespeiro dos tristes dias que ora vivemos. Parece que 2016, este, sim, é o ano que insiste em não terminar.
Porém, e sempre existe um porém, um amigo querido, que mora na Bélgica, e que revi há coisa de dois ou três anos num longo reencontro em um entardecer à beira do Tejo, vem me colocar em desassossego:
“Tchinim (meu apelido de infância), as notícias que recebo do Brasil e sobre o Brasil são alarmantes. Corrupção,crise econômica e social, ódio, violência. Parece a barbárie, meu caro. O que está acontecendo? ”
Nestor era garoto ainda, nas quebradas do bairro do Cambuci, quando precisou deixar o país às pressas. Os milicos procuravam por seu pai, um sindicalista das antigas.
Levamos um tempo até entender direito o que aconteceu, e o sumiço de toda a família.
É a este Nestor que respondo, sem responder:
“Amigo, vou ficar lhe devendo esta”.
A coisa aqui tá feia e, lamento informar, sem qualquer perspectiva de melhora a médio prazo.
“Os militares, o que pensam disso? Há algum risco de…”
Sequer termino de ler a mensagem no Whats – e vou teclando para que o amigo não reviva antigos fantasmas:
“Não”.
Ao que sei, não há qualquer movimento na caserna. Os militares assistem à distância toda a cena. Apesar de que não faltem grupos de civis que clamam pela sua intervenção.
“Menos mal…” – ele tecla.
Menos mal, replico. Mas, deixo o alerta:
“Nem por isso a democracia e os direitos humanos estão a salvos”.
(Aguardo a resposta dele até agora. Desconfio que me bloqueou.)