Foto: Walter Matthau e Jack Lemmon, em cena do ótimo Primeira Página, que narra os primórdios do jornalismo. (Divulgação)
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Toda vez que me perguntam se recomendaria o curso de jornalismo a algum jovem, minha resposta é a mesma:
“Que siga o que lhe diz o coração.”
Penso que seja um bom conselho – e me livro de qualquer responsabilidade.
Explico a natureza da recomendação.
Cada um faz o que quer com os sonhos sonhados e acalentados.
Cada um sabe de si.
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De outra forma, o jornalismo que hoje se pratica não é o mesmo que por mais de 30 anos exerci nas diversas redações por onde andei. Também é bem diverso daquele que, por ousadia e alguma caradura, ousei professar nas salas de aula de três universidades em 20 anos de docência.
O mundo mudou – e, óbvio, a Imprensa também.
Vai que vai. No embalo do mundo digital.
Aliás, mesmo longe dos debates acadêmicos, penso que um tsunami de modernidades varreu e aniquilou impiedosamente muitos dos pilares e conceitos das propaladas teorias da área de Comunicação Social.
Que, registro:
No que entendo, Comunicação Social nunca foi ciência – e, sim, técnicas e valores que se aplicam no âmbito humanístico.
Mas, esse é um papo deja vu que há tempos deixei pra lá.
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Volto à questão inicial.re
E justifico:
O amigo sumido e jornalista Luciano, que foi meu aluno em tempos idos, reaparece no meu zap.
Está preocupado com a filha Rebeca.
– No último ano do Ensino Médio, a Rê encasquetou de ser jornalista como o pai e a mãe.
Ambos trabalham numa Agência de Comunicação – e entraram em estado de alerta.
Apregoam à jovem a verdade que vivem e lhes parece definitiva:
“O jornalismo acabou.”
Uia!
– Ela não quer entender, prô!
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Luciano, talvez você e a digníssima tenham lá suas razões.
Razões movidas pelo bom senso e o amor supremo de todos os pais.
Permita-me, porém, um pitaco – e falo por mim:
Não tenho como tirar de ninguém o ideal (palavra bonita) de ser jornalista.
Por um questão de consciência.
É a minha profissão. Que, bem ao meu jeito, me fez – e faz, na maior parte do tempo – bastante feliz.
E olha que nunca fui o Rei da Cocada.
Não sou exemplo pra nada.
Andei à margem das grandes redações, das extraordinárias manchetes, dos bastidores dos relevantes fatos históricos e cousa e lousa e mariposa – mas, creio que posso dizer: vivenciei aventuras inimagináveis , conheci pessoas bacanas, ouvi histórias e estórias incríveis que resultaram num balaio de experiências que me deu régua e compasso para chegar até aqui. Com dignidade e sonhos.
Sim, amigo, como diria o Poeta Neruda, confesso que vivi. Entre conquistas e fracassos, alegrias e tristezas, muito ‘pescoção’ madrugada adentro, fins de semana na lida, muita correria para cumprir o prazo de fechamento da edição ou para escrever o melhor texto.
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Agora, pense comigo, Luciano.
Lá nos antigamente, ouvi a mesma cantilena desalentadora de alguns senhores grisalhos quando lhes disse que estudava Jornalismo.
Lembro que comecei no Diário da Noite, já deficitário e prestes a desaparecer.
O pessoal da Redação andava num baixo astral brabo.
Nem assim, desisti – e deu no que deu.
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Com você, não foi assim?
Então?
Assim é a vida.
Assim são os desafios.
Ela vai achar o próprio caminho.
Vai na fé…
Sigamos!
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Para encerrar, lembro uma crônica do Rubem Braga.
Se bem me lembro, chama-se Doutores Jornalistas.
É de 1939.
Fala da implantação do primeiro curso de jornalismo no Brasil numa universidade no Rio de Janeiro.
O que mais intrigava o cronista era explicar aos jovens profissionais recém-formados a única lição que sabia de cor e que era comum às redações da época.
Que assim ele resumia:
“Gastei um ano aprendendo a trabalhar, dois aprendendo a trabalhar menos e três aprendendo a receber”.
Abraço fraterno!
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O que você acha?