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A esperança que habita o Parque centenário…

"Um suspiro para o que foi. Um sorriso para o que será… Eis a vida" (Paul Bourget)

01. Foi um feriado diferente o desta terça-feira (12), no Parque da Aclimação. Uma programação especial do Cartoon Network reuniu a garotada para muitas brincadeiras em pleno Dia das Crianças. Até que São Pedro ajudou, fez bom tempo e os pequeninos puderam se esbaldar em jogos e diversões com os heróis preferidos da TV. Lá estavam o Scoobydoo e sua turma, a Didi, o Dexter e outras criações da Hanna Barbera que encantam e os fazem viajar em sonhos e estripulias. Todos saudaram o 107º aniversário do parque, tombado em 86 pelo Patrimônio Histórico…

02. Houve um personagem, porém, que nenhum garoto notou. Andou por ali desapercebido um certo senhor de ar cansado e pensamentos dispersos. Em meio àquela algazarra, o homem não resistiu à tristeza que nele se fez hábito. Sentou-se num velho banco de frente para o lago e suavemente deixou-se levar, túnel do tempo afora, para meados dos anos 60. Aportou, como uma dessas figuras mágicas dos desenhos, no ancoradouro do então lago de águas serenas (e razoavelmente limpas) do Parque.

03. Lá, encontra o garoto sardento, de calça rancheira FarWest (calção por baixo, para eventuais mergulhos), conga azulzinho e camisa esgarçada, pronto para o que der e vier. A aula no Grupo Escolar Oscar Thompson já ficou para trás (pela manhã, o tempo passa mais rápido) e agora só espera chegar o resto do pessoal para um racha no barrancão, aquele terreno amplo atrás do campo de futebol. Alguém falou em bola de capotão. Um luxo inimaginável para a garotada pobre da Muniz de Souza e arredores. Três times, no mínimo. Quem ganha, fica. Quem perde, espera vez. Todo mundo descalço, não há tampa de dedão que resista intacta, ralando até escurecer… Ô jeito bom de levar a vida…

04. Há sempre uma aventura a ser vivida na próxima esquina. Pode ser a estrepitosa estréia do filme Help no cine Riviera. Ou mesmo os empolgantes
pegas de carrinho de rolemã, ladeira abaixo na Dom Duarte Leopoldo. Alguns preferem as intermináveis famílias na mesa de ping-pong na sede do glorioso Santos Futebol Clube do Cambuci. Mas, o ponto de encontro é sempre o Parque da Aclimação. Ali, aos domingos na Concha Acústica, os batuqueiros da Império do Cambuci reúnem-se para cantar velhos e inesquecíveis sambas de Ataúlfo Alves. Fazem um baticum mais cadenciado que sei lá por onde e sei lá porquê repercutem no fundo d’alma e coração.

05. Vislumbra-se um encanto, algo acima do bem ou do mal, acima dos Beatles ou dos emergentes Rolling Stones. Lembra que, por essa época, pela primeira vez, sente a garganta embargada por um nó ao ouvir uma canção dolente. Os versos falam em jogo de botão pela calçada e numa pungente saudade da professorinha que lhe ensinou o bê-a-bá.

06. Só hoje, trinta e tantos anos depois, sou capaz de entender o velho Ataúfo ao retratar, em apenas uma frase, a plenitude de sua infância na pequenina Miraí:
Eu era feliz e não sabia…. Eu também, só que pelas cercanias do Parque da Aclimação, onde a esperança em dias melhores, nesta tarde, tem nome. Chama-se Ana Beatriz, é um toquinho de gente. Uma espuleta de olhos castanhos a balbuciar palavras num idioma que não consigo entender. Que agarra-se às minhas mãos, aponta os pássaros que sobrevoam o lago e habita um Planeta chamado Sonho.

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