A pergunta que mais ouço na Universidade:
“E então, professor, o Temer vai cair? ”
– Tomara, replico sem hesitar.
A pergunta que mais ouço fora da Universidade:
– E aí, jornalista, você que sabe tudo, o homem não vai largar o osso. Renuncia ou o Supremo dá um chega pra lá no cara?
Sou um ex-malandro triste, do bairro do Cambuci, um repórter mambembe, que andou vida fora, daqui pra lá, de lá pra cá, atrás da notícia boa que valorizasse o brasileiro humilde e sonhador, nada sei de nada. Mesmo assim, respondo, no automático:
– Tomara, companheiro, tomara…
II.
Alguém retruca, com expressão de desalento:
“Pior do que está não pode ficar. Pode? ”
– Não sei, meu amigo, não sei…
Depois de tantas e tamanhas, do rebuliço que virou nossa tenra democracia após o Golpe, tudo é possível. Tristemente provável.
As forças que forjaram a retirada da presidente (ou presidenta, tanto faz), legitimamente eleita pelo voto direto, do Palácio do Planalto, rasgaram a Constituição, profanaram o voto popular e nos legaram a todos (inclusive a elas próprias) o tenebroso abismo de um Estado de Exceção.
O tal do ‘vale tudo’ é o que hoje nos assombra.
III.
O que tais forças (lá nos anos 70, ousávamos chama-las de Sistema) pretendiam e pretendem é a aprovação das reformas trabalhista e previdenciária que dizimam os direitos do trabalhador comum, seja no âmbito de conquistas seculares como o direito a férias, o 13º, a carteira assinada, a indenização, a uma aposentadoria digna etc.
Para este fim, valia empoderar qualquer um – que fosse o Huguinho, o Zezinho, o Luizinho ou o dono da Pinguela para o Futuro. O que importava – e o que importa – é que o tal entregasse a eles a jugular dos trabalhadores. Ou seja, as reformas nos trinques que o Sistemão deseja e quer.
De volta, ao século 19…
IV.
Claro que há outros componentes igualmente incômodos aos privilegiados de sempre – o avanço social das classes menos abastadas, a inclusão dos pobres e humildes aos cursos superiores, a representatividade dos movimentos populares, a política internacional não-alinhada com interesses apátridas e que tais. No entanto, o que pega mesmo são as almejadas reformas e a precarização do trabalho.
Para a turma da Fiesp e afins, tudo; para o chão de fábrica, apenas a sobrevivência, do jeito que der.
V.
Portanto, meus caros, se o Bruto capotar na curva, e a escolha do novo presidente depender do Congresso atual, pela via indireta, não há qualquer esperança de que as coisas mudem de figura. Tenha o nome que tiver o nome do feitor – Meireles, Jobim, Armindo, Renan, Maia, Caiado e assemelhados – será mais do mesmo.
Por fim, e enfim: Diretas Já. E sempre!