O professor de Literatura faz a leitura para a classe de um poema de Drummond.
“Mas leio, leio. Em filosofias
tropeço e caio, cavalgo de novo
meu verde livro, em cavalarias
me perco, medievo; em contos, poemas
me vejo viver…”
Lá, pelas tantas, ao aparecer o termo “medievo”, o professor interrompe a fluência do poema Biblioteca Verde para uma terna consideração:
"E hoje perdemos nosso medievo… Morreu o escritor Ariano Suassuna. Um brasileiro que nunca viajou para além das fronteiras de seu país. Mas, que nos legou, em seus escritos, a concepção do homem e seu tempo, do homem e o universo.
Certa vez, em uma conferência, lhe perguntaram:
– O senhor nunca teve a curiosidade de conhecer outro país?
Suassuna esboçou uma breve inquietação de curiosidade no olhar, e respondeu que, por vezes, de quando em quando, lhe açodava a vontade de estar na Espanha, saber de suas gentes, de sua cultura.
Nessas ocasiões, disse ele, entendia que era hora de reler Dom Quixote e assim, acreditem!, saciava integralmente sua curiosidade e o desejo, como num passe de mágica passava.
Todo escritor traz um Quixote dentro de si.”
Feita a consideração, mais do que oportuna, o professor retomou o poema do dia:
“Mas, leio, leio…”