Não é preciso muito para que a cidade fique envolta por uma grande névoa.
Como diz a letra do hino, São Bernardo, fica nos contrafortes da Serra do Mar. Vai daí que hoje cedo mal embiquei o carro para fora da garagem e lá estava o fog sambernadense a esconder os arredores do prédio, onde moro.
A cena não chegou a me surpreender por não ser tão rara assim. Ainda mais que há ainda pouco saímos do inverno e recém entramos na primavera.
O que me provocou algum espanto foram os vultos que, pouco a pouco, foram surgindo, ainda que sem muita nitidez, à minha frente e que de algum modo, tomavam toda a praça sob o viaduto que dá para a avenida Lucas Nogueira Garcez.
Dispostos a dez passos um do outro, eles acompanhavam a linha da calçada e formavam um misterioso círculo – e, voltados para o leito carroçável, acenavam estranhos estandartes, de cores diversas, estampados com figuras a princípio inomináveis e dizeres inteligíveis.
II.
Minha primeira reação foi escapar o mais rápido possível daquela nuvem que mais parecia imagens de um pesadelo.
Aos poucos, porém, lá dos confins da memória, veio à lembrança as imagens de um antigo filme do italiano Mário Moniccelli que literalmente fez a cabeça do pessoal da minha geração. Chamava-se O Incrível Exército de Brancaleone, uma divertida sátira dos hábitos e costumes dos cavaleiros medievais.
Por aqui, vivíamos os anos de chumbo do autoritarismo – e, cada um de nós, sentia-se parte daquele exército em frangalhos que perambulava pela Europa em busca de um feudo idealizado. Aqui, nossas querelas eram com os desmandos de um período ditatorial e a construção do almejado estado democrático.
“Branca, Branca, Branca…
Leon, Leon, Leon “
Repetíamos o refrão dos cavaleiros medievais a nos divertir e a nos consolar que eram tempos árduos – mas, era obrigação seguir em frente.
A tropa que vejo à minha frente é diferente.
Não sai do lugar.
Não diz palavras.
Apenas balança as bandeiras ameaçadoramente.
Parece um bando de zumbis.
* AMANHÃ CONTINUA…