Lá pelos idos dos anos 70, ainda no espocar da redemocratização no País, ouvi do jornalista Mino Carta que São Bernardo do Campo era a única cidade contemporânea do País. O combativo jornalista se referia à organização dos trabalhadores na região – especialmente, claro, os metalúrgicos que, desde 1978, solapavam a ditadura militar com greves e manifestações.
Tinham Lula no comando, vale lembrar.
Mas, o que Mino proclamava era a organização dos trabalhadores e o teor transformador que aquele movimento trazia embutido em si e que, assimilado pelos outros segmentos da sociedade, poderia (como o fez) tirar o Brasil do ranço da dominação e do retrocesso.
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Quase quarenta anos se passaram, o Brasil mudou, desmudou. Mudou de novo…
E, cá estamos, outra vez, a viver outro momento limite.
Nossas instituições estão fragilizadas. Os chamados três poderes não se dignam a nos representar. A ter como meta a construção de um Brasil verdadeiramente de todos os brasileiros.
Não há o peso de ditadura, é certo.
Mas, os donos do poder que a bancaram estão aí, de volta e no comando.
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São Bernardo não é mais a mesma.
Os metalúrgicos, idem.
Houve um esvaziamento do poderoso parque industrial.
Muitas empresas deixaram a região em busca de benefícios fiscais e mão de obra menos organizada e consciente.
É a impiedosa regra do jogo.
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Recebo no WhatSaap a notícia que o cantor/compositor Caetano Veloso se apresenta hoje na ocupação do Movimento dos Trabalhadores sem Teto em São Bernardo do Campo na noite de segunda-feira, a partir das 19 horas.
Trata-se de um show de apoio à causa que vem mobilizando manifestações em todo o País.
Depois do espetáculo, na manhã desta terça, os trabalhadores preparam uma marcha até o Palácio dos Bandeirantes, onde vão cobrar a desapropriação do terreno e compromissos de moradia do governo do Estado.
Sou um ex-morador do Planalto. Lembro-me de ouvir muitas histórias sobre o terreno da Scania que estava em abandono há 40 anos, mais ou menos à mesma época em que me mudei para São Bernardo do Campo.
Atualmente, mais de 6 mil famílias ocuparam a área.
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Vocês podem me achar doidim de tudo. Otimista demais – e não lhes tiro a razão.
Mas, estou com um sentimento (ou uma torcida) que talvez seja este o momento, o caminho.
Que amanhã parta de São Bernardo a marcha para um Brasil mais justo e contemporâneo.
Aliás, como são as canções de Caetano, especialmente aquela que nos resgatou a esperança e o sonho lá nos idos de 67…
O que você acha?