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Direto do sambódromo

Alô, rapaziada do Pólo Cultural Turístico "Grande Otelo"… Vamosimbora gente!!! O Grêmio Recreativo, Esportivo e Cultural, Escola de Samba Unidos da Desesperança pede licença e pede passagem para mostrar o seu mais novo e antigo enredo "De como o País do Futuro caiu do Real, perdeu a soberania e voltou aos tempos de Colônia". Abenção, meu Senhor do Bonfim que vamos arrebentar no sambódromo… Vamosimbora gente!!!

Aí vem, abrindo o desfile, o presidente da escola e principal responsável por essa emocionante história, o príncipe dos príncipes, o terror dos fracossomanos e catastrofistas, ele, sim, ele: Fernando, o Belo, com seu rebrilhante terno bege de tecido sintético e gelado, bem apropriado aos dias calorentos do verão… Vem sorrindo com a possibilidade de ganhar mais um título de doutor honoris-causa, de mais uma viagem internacional para mostrar o que é que o povão tem… Vem sorrindo (como já disse), vem cantando, vem embromando… Simpático, muito simpático…

Olha, que está pintando na avenida, o carro do abre-alas, ma-ra-vi-lho-so. Uma águia estilizada, nas cores vermelho, azul e branco. Traz preso em suas garras algo que me parece ser um enorme país-continente que, conforme me informam agora, se situa ao sul do Equador. Magnífico, magnífico… Suas asas, enormes, movimentam-se graças a alguma engenhosa tecnologia como a levar esse torrão e sua gente sabe-se lá para onde… Que beleza, pessoal… Pena que o nosso Caro Leitor não seja em cores…

Agora é samba no pé (paulista gingando é o que há!), a primeira ala vai tomando todos os espaços — e curiosamente, apesar de toda a beleza, ganhando uma sonora vaia dos geraldinos e arquibaldos, que talvez estejam desinformados das suas verdadeiras intenções. Com vocês, galera, a insinuante ala "Vistores do FMI"… É esse pessoal que vai determinar o ritmo de toda evolução da Unidos da Desesperança… Vamos entendê-los, aplaudi-los porque senão o dim-dim some de vez… A tal soberania já dançou mesmo… Abra os olhos, minha gente… Que agora é a vez dos destaques… Notáveis sob todos os pontos de vistas. Os engomadinhos da Eco(bo)nomia… De elegância sem par. São deslumbrantes e deslumbrados. Tomam conta de tudo, palpitam, fazem-e-acontecem, claro que no rastro dos "Vistores do FMI"… E entregam, ah!, com entregam… É isso aí!

Quem chega a seguir é outra ala de arrepiar… Faz tremer descompassadamente nossos corações e bolsos e sonhos e vida… "O Dólar nas Quinas da Lua". Aplausos. Aplausos… Pois logo, na sequência, vem a corporação ou bateria, como o dileto leitor preferir… Chega com os batuqueiros fantasiados de "Monstro da Inflação", com uma tonitroante marcação e os repiniques evidenciados anunciando os preços, quer dizer os tamborins em alta, alopradamente em alta… Vamos saudar o "Monstro da Inflação" que vem se espalhando de mansinho e contagiando a todos!!! O que que está acontecendo? A ala "Vistores do FMI" apertou o passo, assim vai destruir toda a exibição da escola… Que corre-corre é esse? Mesmo que os ministros de Harmonia tentem dizer, com gestos e palavras, que está tudo sob controle, o imenso carro alegórico da "Miséria" vem atropelando todos os componentes da Unidos. Parece que, embora muito provável, ninguém fez nada para segurar essa barra…

Agora é cada um por si na pista. É um salve-se quem puder em todas as alas. "Eu não tenho onde morar". Oba! "Caos nos serviços públicos". Oba! "Apertem os cintos, o emprego sumiu". Oba! "Dinheiro pra que dinheiro". Oba! "Empresários falidos". Oba! "Rá-tá-tá-tá. Na mira dos bandidos". Oba! "De volta ao passado". Oba! "O último que sair apaga a luz". Oba! As alas continuam a desfilar. Só que não dá para descrevê-las em razão do baita sufoco que ora vivem. Mas, dá para se ter uma idéia do que está acontecendo no sambódromo da vida… Vamos segurar essa onda. Até porque "fechando" o desfile vem uma legião de criança. De todas as raças e cores e nomes… Têm um brilho singular no olhar. Não diria que são exatamente felizes, todas elas. A ala "Central do Brasil" nos ensina a enxergar o futuro com a fé de que tudo vai melhorar. Serão por nós, certamente. Mas, é fundamental que intercedamos por elas desde já — e sobretudo na hora de escolher nossos dirigentes. Quem sabe assim possamos mostrar nossa arte e resgatar o velho nome dessa imensa escola de samba chamada Brasil que, um dia, alguém chamou apropriadamente "Terra da Esperança", tá.

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