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Encontro marcado

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Foto: Arquivo Pessoal

Meus caros…

Não houve escapatória.

Rever (ou reler?) Eduardo Marciano depois de longos anos (30 ou mais) foi barra.

Causou um estranhamento.

Natural?

Sei, não…

Somos contemporâneos.

Anos 50. O pós-guerra, as inconstâncias de um mundo novo (ou ao menos a promessa vã), o existencialismo, as convenções, a ânsia descabida de viver intensamente:

“Uma espécie de polifonia literária.”

“À noite, juntavam-se aos literatos do jornal. Não havia ali quem não tivesse algo inédito que seria o melhor do país, no dizer dos demais.”

“Abaixo a literatura de gabinete!”

“Os gênios incompreendidos.”

Reitero o estranhamento no almejado (e, por vezes, adiado) reencontro.

Mal o reconheço.

Ou melhor seria dizer, mal nos reconhecemos.

Tantos anos…

O mundo mudou  a perspectiva do nosso olhar.

O mundo mudou…

… embora (ou apesar de que) sejamos os mesmos.

Permita-me, Eduardo, uma digressão.

Eu entendia que havia muito do Sabino em você. Na coisas que diz, na trajetória, no ir-e-vir Minas/Rio, os amigos, a literatura, a arte:

“O artista é o profeta do passado.”

Alguém – a professora de Literatura, talvez – me soprou que um era o alter ego do outro.

– Uma geração atormentada.

“Pior do que morrer é nunca ter nascido.”

Conto é tudo o que chamamos de conto.

De quem é a frase?

De qualquer forma, Eduardo, não me lembro de vê-lo assim tão perturbado e perturbador, algo desvalido nas ações e, desculpe a sinceridade, desastrado consigo mesmo e os seus pares.

“Dizer o indizível? O silêncio é a linguagem de Deus. A linguagem do homem é difícil, retorcida, suja, atormentada.Tudo o que se escreve é apenas uma paródia do que já está escrito e ninguém é capaz de escrever.Tudo o que se vê é apenas uma projeção do que não se vê, sua verdadeira natureza e substância.”

“Basta olhar para as minhas mãos para sentir que elas ocupam o lugar  das mãos de Deus…”

Metafísica à parte, este é um Sr. Eduardo Marciano que, de boa, desconhecia.

Dá para entender.

Quando somos mais jovens, não analisamos, como diz você:

“Não analisa.”

Temos pressa. Muita pressa.

Vivemos – e basta!

Pecamos pelas generalizações.

“Nem Nietzsche leu o que Nietzsche escreveu.”

Sempre tive Sabino por referência.

Daí que, à primeira vista, não foi (e não é) problema simpatizar com Eduardo Marciano, o funcionário nomeado da Prefeitura do Rio de Janeiro nos tempos da Bela Cap, articulista e colaborador de jornais, especialista em escrever sobre a arte de escrever um romance.

Que, a bem da verdade, ele, Eduardo, nunca escreveu.

Mas deu vida a uma das grandes obras da nossa vasta literatura.

Um personagem do seu tempo.

O protagonista do único romance Encontro Marcado, de autoria de Fernando Sabino (1923/2004), que acabo de reler e me encantar.

Recomendo.

Vale a leitura!

Valeu a releitura!

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