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Escova, em Garibaldi

A amiga Leila me escreve.

Diz que riu muito com a história do Escova que ontem publiquei aqui.

Leila trabalhou com a gente na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a ruidosa avenida do tradicional bairro do Ipiranga.

Deve conhecer o Escova.

Só não está associando o nome à pessoa.

Porque, como o próprio gostava de dizer, “uma coisa não tem nada a ver com a outra”.

Escova namorador e sensível a um romance em cada esquina era o do boteco que não mais existe no Sacomã, onde hoje está a portentosa Estação do Metrô.

A começar que, na redação, o amigo atendia pelo nome de batismo – por motivos óbvios, não estou autorizado a divulgá-lo. Era outro homem. Um grande repórter, na acepção do termo. Avesso a sentimentalismos ou mesmo a qualquer manifestação pessoal. Mostrava-se objetivo, claro e preciso em seus textos. Gostava de entrevistar as pessoas – qualquer pessoa. Fosse o candidato a prefeito, fosse o morador que reclamava do buraco na calçada, fosse quem fosse, era só atenção e cuidado para não alterar uma vírgula do que estava ouvindo e depois iria relatar aos leitores.

Ele sabia dividir as coisas.

Mostrou essa, digamos, estranha ‘virtude’ por ocasião de uma viagem que fez a Garibaldi, no Rio Grande Sul. O nosso repórter foi fazer uma reportagem sobre um espumante adocicado que faziam (fazem?) por lá e era (é?) conhecido em todo o Brasil.

Quando voltou, Escova trouxe impressões distintas sobre a viagem.

No trabalho, ele era monossilábico. Só quando era questionado por um de nós se referia à pequena cidade, sem qualquer entusiasmo. Houve quem dissesse que ele gostaria mesmo de percorrer a rota do vinho que corta toda a serra gaúcha.

À noite no Sujinho, falava maravilhas da cidade. Do por do sol que viu ao visitar uma ermida no alto de uma ladeira, das ruas pacatas e de um café/livraria, onde jurou voltar um dia – e onde se sentiu a mais feliz das criaturas.

Para desvendar o mistério, convocamos o parecer abalizado do Neblina, repórter-fotográfico que o acompanhou na reportagem:

— Ah! Vocês não conhecem a fera?Estávamos em uma cafeteria, esperando dar a hora de voltarmos para Porto Alegre, quando apareceu uma loura lindíssima. Preciso falar mais alguma coisa… Ao vê-la, o Escova surtou e, de imediato, foi para a abordagem, sem pensar nas consequências. Por sorte, a moça estava sozinha, percebeu o bote e se mandou sem deixar rastros.

Escova tentou ir atrás, mas ela sumiu na poeira das ruas.

— Ele ficou inconsolável. Jurou por todos os deuses que ela foi receptiva aos seus olhares – e que, tinha absoluta certeza, que aquela era a mulher da sua vida. E que iria reencontrá-la custasse o que custasse…

Vocês podem não acreditar. Mas, o Neblina nos garantiu que de Garibaldi a Porto Alegre e, no avião, de Porto Alegre a São Paulo, o homem não falou de outra coisa – e com os olhos rasos d’água.

No aeroporto, de pronto, passou a crise romântica. A esposa e as filhas o estavam esperando – e ele voltou a ser o pacato cidadão, mas tão pacato, tão pacato que a Leila nem se lembra dele.

FOTO NO BLOG: Segóvia/Espanha