Sou do Cambuci, todos sabem. Vivi minha infância e adolescência por ali. Entre as várzeas do Glicério e da rua Independência (também chamada de Sete Campos), devidamente contempladas, de quando em quando, pelas cheias do rio Tamanduateí.
Para não aliviar, atrás da casa onde morava, passava o Córrego Aclimação que, na intimidade, chamávamos de “riozinho”.
Pela descrição geográfica, dá para vocês perceberem que sou useiro e vezeiro em enchentes. Aliás, pelo tanto que trabalhei na cobertura de inundações no meu tempo de repórter, posso dizer que sou doutor “honoris causa” no assunto.
Minha experiência começou cedo. À saída do Grupo Escolar Oscar Thompson, quando viu que à minha espera estava o meu tio Neno ou o vô Carlito, já sabia que as águas haviam invadido o meu humilde lar doce lar na rua Muniz de Souza. Naquela noite, dormiríamos, eu e minhas irmãs, na casa dos meus avós em colchões de feno que minha avó Ignês espalhava no chão da sala.
Mais crescidinho e já cursando o ginasial, que Deus e todos os santos me perdoem, mas ficava até feliz quando ouvia que o Tamanduateí havia transbordado. Minha torcida era para que as águas barrentas isolassem os acessos ao Colégio Nossa Senhora da Glória. Assim as aulas eram suspensas até que tudo voltasse à normalidade.
Já como jornalista perdi a conta das reportagens que escrevi sobre o assunto. A lembrança mais assustadora que tenho é a da tarde em que o carro do jornal foi arrastado pela correnteza que se formou ao longo da avenida Tereza Cristhina, às margens do histórico Riacho do Ipiranga. O velho Fusca flutuou por apenas alguns metros, o suficiente para entrarmos em pânico, eu e o repórter-fotográfico Walter da Silva. Algum bom anjo levou o carro para um ponto mais raso da rua e, rapidinho, saímos dali.
É uma experiência, aliás, que não recomendo.
Por essa, aquelas e tantas outras que já vivi, posso dizer com alguma autoridade:
Nunca vi tanta chuva…
** Faz sentido. Deu no UOL que há 63 anos São Paulo não tinha um mês tão chuvoso, segundo o Instituto Nacional de Metereologia, outra autoridade no assunto.