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Futebol, jornalismo e o sapatênis

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Foto: Cléber Machado, fora da Globo depois de 35 anos/Reprodução

Joca, meu considerado, que pergunta é essa?

“Professor, o que está acontecendo no Jornalismo Esportivo com a demissão de tantos nomes de peso, como Galvão Bueno, PVC e agora o grande Cléber Machado?”

Joca foi aluno do pós de jornalismo esportivo da FAAP quando eu estava por lá e lecionava a disciplina de História do Jornalismo Esportivo.

Daí, desconfio, a lembrança de recorrer ao velho rábula sobre a momentosa questão.

Outra egressa do curso, a Desiré, vem no mesmo embalo.

Quer saber como seria a minha aula, se o curso ainda existisse e lá eu ainda estivesse?

Gosto quando um ou outro da turminha lembra de mim.

Fico entre o vaidoso e o surpreso.

Tento – por vezes, em vão – não decepcioná-los com minhas aleatórias respostas.

O que lhes diria hoje?

Primeiro, bem vindos ao Blog.

Meus caros e raros, o tema é complexo.

Certamente, Joca e Desiré, eu relembraria as várias fases que viveu e sobreviveu galhardamente o profissional de Imprensa no âmbito do futebol.

Como é do meu feitio e gosto, é muito provável que embasaria minha conversa com duas histórias reais.

Adoro contar uns causos.

I –

Ainda nos meus tempos de estudante de jornalismo na Universidade de São Paulo, o professor chileno José Wilcher, responsável pela disciplina de Fundamentos Científicos da Comunicação I (seja lá o que isso quer dizer).anunciou em alto e bom som para a classe de jovens cabeludos e sonhadores que:

todo e qualquer veículo de imprensa – seja ela, escrita, falada e televisionada – tem um ciclo de existência, como tudo e todos na vida. Nasce, cresce (ou não?) e morre (ou desaparece). Simples assim.

Foi um baque para nós.

Quer dizer que Estadão, Folha, JB, O Globo, Diário de S.Paulo, Diário da Noite, Diário Popular, Última Hora, A Gazeta, A Gazeta Esportiva, o magnífico Jornal da Tarde, a Veja, Manchete, Fatos & Fotos, O Cruzeiro e outros tantos títulos – que pareciam eternos – iriam desaparecer?

Valia para os noticiários da TV e do rádio?

Boquiabertos, duvidamos.

Sei que não preciso responder, mas prefiro fazê-lo até para dar um maior realce à argumentação:

Quase todos esses jornais e revistas já se foram.

Quem ainda está por aí resiste de teimoso.

II.

Outra historieta. Um tanto mais recente. Ali por volta de 2008, 2009.

Um jovem estudante de Jornalismo, estagiário em renomada publicação regional, me procura na Coordenação do curso de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo.

Está surpreso e esperançoso:

“Professor, cortaram toda a chefia. Todos os editores dançaram. Não sobrou sequer o editor-chefe que era amigo do filho do dono do jornal. Uma pancada. Disseram que vão me efetivar e agora é a vez dos jovens tocarem o jornal. O que o sr. acha?”

Respondo:

“Normal. É o que chamamos de passaralho para cortar os salários mais altos e jogar pra baixo os custos operacionais do jornal. Não há renovação. É mais uma manobra econômica mesmo. Se você resistir por lá uns dez, doze anos, farão o mesmo com você, sob a mesma alegação: é a vez dos mais novos”.

Fui um tanto cruel, eu sei.

Mas, é matéria prima do jornalista lidar com a realidade sem ilusões.

Enfim…

Voltemos às inquietações do Joca, da Desiré e de outros mais que gostam do assunto.

É por aí que a banda toca.

Fim de uma era em que a Globo – para o bem ou para o mal – monopolizou as transmissões futebolísticas do País, parceiraça da CBF – e agora enfrenta dificuldades para bancar uma equipe mais experiente e renomada.

Aviso aos navegantes: outros cortes virão e não só na Toda Poderosa. Implacáveis e, como agora é praxe, acompanhados de elogioso comunicado de dispensa.

Vamos lá.

Uma pitadinha do contexto para explicar o óbvio.

O custo dos direitos de transmissão subiram à estratosfera.

Tem mais que ser compartilhado mesmo.

Ninguém consegue segurar a bucha sozinho.

Além do que, é inevitável – não há como conter o avanço voraz de outras plataformas. Hoje bem mais presentes na vida do chamado público consumidor. As redes sociais e o streaming, por exemplo.

A moda é a produção independente. O podcast, a live, o react, o canal no YouTube e por aí vão as novidades (não tão novas assim).

Quem está surfando nessas águas, importante aproveitar o momento.

Essa bolha estoura mais dias, menos dias.

Isso tudo, não significa dizer que há em andamento qualquer movimento de renovação no fazer do jornalismo esportivo.

A praxe é:

Muita falação e pouca informação.

Seja nas transmissões, nos programas de TV e rádio, nas lives, nos podcasts e reacts.

A ‘sapatenização’ do jornalismo esportivo é uma grande falácia.

Muda tudo para continuar tudo como está.

Com ou sem 13°, férias e demais encargos trabalhistas.

Acrescento que, de todos os narradores globais, meu preferido é (ou era?) o Cléber Machado.

No mais, meu abraço fraterno ao Joca, à Desiré e aos amigos e eventuais leitores.

Continuem me querendo bem que não custa nada.

Ainda nenhum comentário.

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