“Tem tempo que é de fogo!
Tem tempo que é de água!”
Desconfio que nem sequer o próprio Gilberto Gil se lembre dessa frase dita por ele, em uma entrevista à revista Bondinho, lá nos idos de 70. Assim que chegou do exílio de Londres. Era um Gil bem mais magro do que conhecíamos dos tempos dos festivais. Vestia-se de branco, preservava o cavanhaque (se bem me lembro) e era cultor da macrobiótica.
Vivia uma fase zen.
Era chegado à meditação – e, se bem compreendi, queria distância das confusões políticas e ideológicas.
Por isso, a figura de linguagem: o fogo e a água.
Gil tinha por volta de 30 anos. Pouco mais, talvez.
Falava como um sábio senhor que – imaginava-se – havia vivido quase tudo na vida.
No entanto, Gil estava apenas retomando uma carreira brilhante que se estende, com a mesma luminosidade, até os dias atuais.
Gil e o amigo-irmão Caetano estão em temporada, agora pelo Brasil, com o show que comemora 50 anos de carreira – “Gil e Caetano – Um século de Música”. No fim de semana, estiveram em São Paulo, com casa lotada nos quatro dias de apresentação.
Assisti ao show pela Multishow – a grana anda curta – e fiquei especialmente emocionado. A cada canção que interpretavam, vou lhes confessar, eu era tomado por lembranças, sonhos sonhados e saudades.
Fui (sou) um privilegiado. Acompanhei a carreira de ambos desde o comecinho. Lembro de Gil, sendo chamado ao palco, por Elis Regina e Jair Rodrigues para cantar “Louvação” em O Fino da Bossa, programa da TV Record. Lembro também de Caetano, acompanhando a irmã Bethânia na aventura de invadir barbaramente o sulmaravilha, apresentando-se no show Opinião.
Mais tarde, como repórter, pude entrevistá-los algumas vezes. Caetano é o mais polêmico. Gil, simples e prolixo.
Foram sessões memoráveis para mim.
Não sei bem distinguir se andam hoje em um tempo de fogo ou de água. Para mim, é sempre um privilégio vê-los cantar. Soube que em outubro voltam a Sampa. Desta vez, eu irei – e em um bom lugar. Vai valer o investimento…