Os comerciantes estavam reunidos na principal alameda de Calais à espera da freguesia. Acabaram de armar suas tendas e barracas e ajeitar os produtos. Tudo pronto, agora era aguardar por um bom dia de negócios. A pequena cidade francesa respira ares de aldeia antiga quando se monta a feira nas manhãs dos finais de semana.
Para que o tempo andasse mais depressa, entre rodadas de café fumegante e algum alimento (pois os homens chegam antes do amanhecer para que tudo fique em ordem), alguém pede ao veterano Gilbert que lhes conte uma história qualquer que os inspirasse para mais uma jornada.
Gilbert pergunta:
– Que dia é hoje?
– 30 de maio, alguém responde.
– Pois então vou lhes contar a saga de Joana, a menina que tomou para si o compromisso de libertar os franceses do jugo da Inglaterra no século 15.
O grupo fica em silêncio. Alguns descobrem a cabeça dos gorros e bonés (que lhe dão ares bem locais) em sinal de respeito. Todos, de um jeito ou de outro, já conhecem a saga de Santa Joana D’Arc, mesmo assim reverenciam a lembrança do velho Gilbert.
II.
De origem humilde, Joana não passava de uma camponesa da região de Lorena, quando ainda menina começou a ter visões que a incentivavam a seguir o caminho de Deus.
A notícia do fenômeno logo se espalhou pela aldeia de Domrémy, onde nasceu, e os habitantes ficaram desconfiados e temeram pelas consequências do fato. A cidade tinha uma vida pacata.
Eram pessoas simples, trabalhadoras, não saberiam lidar com qualquer mudança e a súbita fama de que ali vivia uma pequena santa.
Outros, no entanto, reconheciam que havia algo de especial nos relatos que a jovem fazia sobre as aparições e seus desígnios.
Os santos a haviam escolhido para lhes confortar naquele momento tão difícil da vida dos franceses.
Não é nada fácil viver sem liberdade. Com a pátria oprimida pelo invasor.
III.
Joana destoava da tristeza local.
Dizia receber missões divinas a serem cumpridas, aqui na Terra, sem qualquer hesitação.
Uma dessas tarefas – a mais inacreditável – era libertar a França do domínio dos ingleses.
Como assim?
Vocês me perguntarão – e eu continuarei a minha história.
Era o que o Senhor queria mostrar ao abatido povo francês.
Joana tinha 16 anos quando partiu para o campo de luta.
Sua coragem impressionou a todos e, principalmente, ao príncipe Carlos VII que a transformou em comandante de um pequeno exército para libertar a cidade de Orléans já tomada pelos inimigos.
Quando nós, franceses, víamos aquela jovem à frente do combalido batalhão, enchiamo-nos de determinação em seguir as fileiras de combatentes. E, assim, com o ânimo revigorado, enfrentamos e vencemos os invasores de forma surpreendente.
IV.
A vitória, meus caros, fez com que a França se revigorasse de força.
A fama da “Donzela de Orléans”, a enviada dos Céus, se espalhou por campos e cidades.
Sem medo dos opressores, coroamos Carlos VII rei, na cidade de Reims. E partimos decididos para retomar Paris.
A esperança estava de volta.
V.
Foi nessa batalha, porém, que Joana foi ferida e, pior entregue aos ingleses, por traidores da França.
Condenada por heresia, imaginem, os dominadores montaram uma enorme fogueira em praça pública e a queimaram viva para que servisse de exemplo a outros que ousassem insuflar o povo contra eles.
Isso aconteceu em 30 de maio de 1431.
Joana enfrentou com serenidade o martírio, o que motivou ainda mais seus compatriotas na luta para libertação do País.
Tempos depois, aqui, mesmo em Calais, os ingleses foram expulsos do nosso território.
VI.
Joana foi canonizada santa pelo Papa Bento XV e é hoje uma das padroeiras da nossa França livre, igualitária e fraterna.
Que Santa Joana D’Arc nos dê um bom dia de trabalho, cuide e guarde a todos nós!
(E todos responderam “amém” e, revigorados, seguiram para o seu posto de trabalho.)