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Mas, Ele era isso tudo mesmo?

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Foto: Jô Rabelo

Gosto de futebol. Muito.

É bem verdade que já gostei mais. Muito mais.

Especialmente antes da invencionice do VAR que, ao menos no Brasil, consegue institucionalizar e transformar em trama o eventual erro da arbitragem.

Gosto de escrever sobre futebol.

Só não escrevo mais porque já tem gente demais palpitando sobre o assunto.

Também porque sempre ponho em dúvida minha imparcialidade em termos das coisas que envolvem o clube para o qual eu torço. Avanti Palestra!

Por força dos fatos e das efemérides, no entanto, não me furto em dar meus pitacos aqui no Blog sempre que aparece a oportunidade.

Sou – ou fui – sócio número 637 da ACEESP – Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo. Desisti quando me proibiram de entrar de bermudas no estádio numa tarde ensolarada de mais de 30 graus à sombra.

Enfim…

Gosto de falar de futebol; não de dissertar sobre tema tão popular.

Foi o caso do aniversário de 80 anos do melhor jogador de todos os tempos, Edson Arantes do Nascimento, Pelé, o Atleta do Século, o Rei, primeiro e único.

Resgatei da memória do Site/Blog três histórias e as publiquei, assim, como singela homenagem.

Tiveram agradável repercussão: comentários no whatsapp, lembranças de outros grandes momentos da jornada do Rei, histórias paralelas que amigos viveram e/ou presenciaram, além, óbvio,  das inevitáveis perguntas:

– Mas, Ele era tudo isso mesmo?

– Depois dele, quem é o melhor?

Justificáveis os questionamentos – especialmente feitos pela rapaziada que não o viu jogar.

Faço a seguir um arrazoado do que escrevi aos amigos nessas conversas – e passo a régua no tema, prometo.

Então, vou lhes contar:

O garoto entre 11 e 14 anos ia ao estádio ver o time do coração jogar contra o Santos.

A bem da verdade, não sabia ao certo como iria se comportar.

Já levava consigo, pois, a sensação do que Ele faria em campo:

1 – Qual seria a jogada mágica e inesperada?

2 – Em que momento da partida, faria, num gol sensacional ou num drible desconcertante, abrir nosso baú de espantos?

Era docemente tenso.

Assim ficávamos até que o juiz encerrasse a partida. E os nossos corações voltavam a ter o batimento normal. Tum…Tum… Tum…

Não preciso dizer, mas digor:

1 – Pelé centralizava todas as atenções.

2 – Todos os lances do jogo  pareciam fundir-se para levar a bola, reverente e cativa, até Ele.

3 – Era impossível não se encantar.

Garotos suburbanos, íamos a todos os jogos no Pacaembu.

Jogasse quem jogasse.

Se fosse o Santos de Pelé, era a dádiva.

Não pagávamos ingresso para entrar. O guri só precisava estar acompanhado de algum adulto.

Por isso, não.

Ficávamos à frente dos portão principal – e pedíamos, na cara dura, para entrar junto com o primeiro marmanjo que passasse.

Lá dentro reinávamos também. Fazíamos a festa!

A bem da verdade, a bagunça já começava no ônibus.

Entrávamos e ficava a turma toda na parte de trás sem passar pela catraca.

Quando o coletivo estava chegando a alguns quarteirões do estádio, começávamos a zoeira.

Falávamos alto, cantávamos musiquinhas toscas, de versos dúbios.

Tipo:

“Aclimação, bairro da perdição.

De dia, dá tarado.

De noite, dá ladrão.

De dia, falta água.

De noite, confusão.

Se entro no ônibus, está imundo.

O cobrador é um vagabundo.”

O motorista, então, ciente do seu ofício, parava o veículo – e, para pôr ordem na coisa, nos obrigava a descer pela mesma porta que entramos.

Assim economizávamos os troquinhos da passagem.

Na volta, caminhávamos pela avenida Pacaembu, depois pela avenida São João até o ponto do bonde na Praça João Mendes para chegar à rua Lavapés.

Não tínhamos pressa.

Voltávamos maravilhados. Orgulhosos.

Éramos os meninos que viram o Pelé jogar.

Quanto à segunda questão, creio, não há dúvida para os maiores de 60.

Depois de Pelé, quase lá, bem pertinho mesmo, só o Mané.

Isso mesmo, Mané Garrincha, o Anjo das Pernas Tortas.

Sem trela para discussões.

” Para Mané Garrincha”, ensinou mestre Armando Nogueira, o melhor texto do jornalismo esportivo brazuca, “o pequeno espaço de um guardanapo era um latifúndio”.

De resto, aplausos para Didi, Cruyff, Beckenbauer, Di Stefano, Euzébio, Maradona, Messi, Cristiano Ronaldo e outros raros que fizeram a bela história do Planeta Bola.

Aplausos e loas e proas.

Mas, não se comparam…

E ponto – e basta!

* Reparem que grafei Ele em caixa-alta, minha sincera reverência ao deus do Planeta Bola.

 

 

1 Response
  • Arlene Sequeira Martins
    27, outubro, 2020

    Lembrei da época , quando bem pequena ,esperava o portão do Pacaembú abrir ao final do primeiro tempo, para entrar de graça junto com..meu avô. Só não tive a oportunidade de ver o espetáculo que deveria ser ao ver Pelé jogar . Porém , assisti a tantos outros que também fizeram história no nosso futebol . Que falta faz esses verdadeiros astros !

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