“Não tem mais bobo no futebol”.
Quem nunca ouviu a famosa frase? Seja nas mesas-redondas da vida, seja nas ‘coletivas’ de técnicos e jogadores, seja nos animados papos de botequim, alguém sempre lança mão do chavão para explicar o inexplicável.
(Sim, porque não há explicações para as coisas do futebol. Ou alguém aí consegue me esclarecer o toque mágico de tornozelo que gerou o segundo gol da Alemanha, já na prorrogação, do jogo de ontem?)
Curioso que, até outro dia quando dizíamos/ouvíamos o tal bordão, sapecávamos no rosto um sorriso maneiro e identificávamos em nosso interlocutor total ausência de convicção no que dizia.
Por vezes, ele próprio estava falando por falar. Só para não ficar de fora da palpitante polêmica.
Na insinuante órbita do Planeta Futebol, até entendíamos alguns desvios de rota (o Santo André ganhar a Copa do Brasil, por exemplo, ou mesmo um time grande perder para outro da série C); mas , via de regra, os ‘medalhões’ são os que mandam e os que ficam com a taça.
É assim desde que o mundo é mundo.
Ou, como ouvi ou li outro, desde que os soldados ingleses saíram por aí a chutar o crânio de seus adversários vencidos nas guerras e, em tempos idos, inventaram o esporte mais popular da Terra.
II.
Só que em Terra Brasilis, a Copa do Mundo mostra que diminuiu consideravelmente a distância entre as nações ludopédicas. Basta ver o notável desempenho da simpática Costa Rica, já com lugar cativo nas quartas de finais.
Em outras palavras, está entre as oito melhores seleções do mundo.
As partidas de ontem foram bem equilibradas. Alemanha e França tomaram sufoco das equipes de Argélia e Nigéria. Itália, Uruguai e Inglaterra, engalanados com oito títulos mundiais, já estão em casa.
E…
… Bem, falemos do nosso escrete. O freguês de outros tempos, o Chile, fez nossos meninos de ouro chorarem de emoção e de medo.
Dá um jeito nisso, Felipão!
III.
A globalização das transmissões esportivas (na TV fechada, se quisermos, assistimos até a jogos do campeonato do Uzbequistão) e da modalidade como um todo (atletas, técnicos, fisicultores, dirigentes e afins) é apontada como a principal causa.
Dizem os especialistas que a geopolítica do futebol não respeita fronteiras.
Assim o milionário russo é dono do time inglês, o príncipe saudita investe em um clube em Mônaco, o técnico da Bósnia leva a Argélia às oitavas de final, atletas brasileiros e de países africanos espalham-se mundo afora e por aí vai.
Quando vem a Copa do Mundo, os próprios selecionados são ‘enxertados’ com este ou aquele jogador originário de outro país.
Não sei lhes dizer se este fenômeno é bom ou ruim.
Os italianos reclamam que quase não há boleiros nativos nos times da primeira divisão do campeonato da Velha Bota. E se perguntam, após a desclassificação precoce: como fazer uma boa seleção sem dar vivência e oportunidade aos talentos locais?
Enfim…
IV.
A tendência me parece inevitável, incontornável.
E os jogos da Copa, neste mata-mata, se não são lá esse esplendor em técnica, são pura emoção.
E isso é muito bom!