Hoje, na Noruega. Tanque alemão Leopard 2 protege a área de montagem do grupo de batalha alemão. Exercício da OTAN Trident Juncture. Foto: Marco Dorow, sargento do Exército Alemão. Este mundão de meu Deus anda arisco, e periclitante.
Aviso aos navegantes:
Não tenho ódio, tenho memória.
Transcrevo a mensagem que recebi do amigo Nestor…
I.
Carlinho*, meu chapa.
Aqui quem vos fala é o Nestor, o amigo ‘belgicano’ por adoção, que saiu do Brasil a convite dos ditadores de plantão, lá pelos idos dos anos 60.
A bem da verdade, só acompanhei meus familiares. Meu pai, você sabe, este sim operário e sindicalista que, desde a primeira hora, se opôs ao Golpe de 64 – e, em consequência, estava na mira dos homens de verde oliva e seus asseclas.
Éramos garotos, lembra?
Foi uma confusão danada que, anos mais tarde, o amigo retratou na crônica Aqueles Anos Tensos.., aqui, neste Blog que acompanho dia sim e outro também, porque, de alguma forma, me faz sentir mais perto de casa.
Carlinho, você sabe bem.
Fui obrigado a sair do Brasil, mas o Brasil fraterno, com que sonhou meu pai – e este é o seu único e maior legado -, nunca saiu de mim.
II.
Amigo, o que posso lhe dizer nessa hora?
Força aí, companheiro!
Aprendi nesse tempo de vida e andanças – que não é pouco, somos contemporâneos, não? – que não há vitórias definitivas.
Vale também para eventuais – e acachapantes – derrotas como esta agora que não só o Brasil, mas o Planeta enfrenta com o avanço do conservadorismo, da ganância e do capitalismo selvagem e tosco. A tal escola de Chicago…
III.
Tomo coragem de lhe escrever a partir da conversa de ontem, retratada neste espaço, entre você o outro auto-exilado, o Escova.
Venho hipotecar minha solidariedade aos dois e aos que estão ao lado de vocês, ‘combatendo o bom combate’, como dizem por aqui.
Tenho por inspiração, neste modesto recado, duas citações pinçadas da obra do escritor mineiro Pedro Nava (1903/1984).
Penso que cabem adequadamente para explicar o momento por aí:
“Não tenho ódio, tenho memória.”
“A experiência é um farol voltado para trás a iluminar o caminho que já percorremos.”
IV.
Entendo que é possível usá-las para explicar o porquê não devemos subestimar as ameaçadoras promessas feitas durante a campanha que, se cumpridas, causarão enormes danos aos valores democráticos que tanto preservamos.
Por outra, aos que resistirem – e estes sempre os há – não há como abrir mão do equilíbrio e do bom senso.
De resto, fica a pergunta que não quer calar:
Como acreditar em alguém que se inspira no obscurantismo de tempos autoritários e cruentos?
Faço, se me permite, uma observação.
É uma quase pensata:
A Operação Mãos Limpas, na Itália, levou Berlusconi ao poder. Neste sentido, a Lava-Jato, no Brasil, deu no que deu…
V.
Resistir é preciso, meu caro.
Não sei se lhe ajudo com essas linhas.
Mas, marco presença.
Conte comigo. E com meu afetuoso e fraterno abraço. Em todos os momentos desta caminhada que se chama vida.
Estamos juntos.
“Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar…”
*Um adendo: Tchinim, Carlos, Carlinho era como me chamavam quando garoto nas quebradas do Cambuci. Dependendo do lugar e das pessoas, era um nome ou apelido. Tchinim, para os italianos, amigos do pai, quando era bem molecote. Carlos, para a família da minha mãe. Herdei do avô materno Carlos Humberto, este meu segundo nome. Carlinho, para a turma do futebol de rua e da várzea do Glicério. Carlão era o goleiro do nosso time; bom, pra caramba…
Leia também a profética Nestor e a corrida eleitoral 2
O que você acha?