01. Cumpriu-se a sentença. O deputado federal Sérgio Naya teve seu mandato cassado por quebra de decoro parlamentar na quarta-feira, dia 15. A vontade do plenário, segundo o presidente da Câmara, Michel Temer, atendeu ao clamor nacional. Mas, nada tanto assim. Foram 277 votos a favor (20 além do que era preciso), 163 contra, 21 abstenções e 10 votos em branco. Sem o escudo da imunidade, Naya não pode concorrer a qualquer cargo público nos próximos oito anos e está "livre"para responder criminalmente pelo desmoronamento do prédio Palace 2, construído pela sua empresa, a Sersan. Na galeria da Câmara Fedral, 27 vítimas do desabamento do Rio, que comoveu a opinião pública nacional, cantaram o hino nacional assim que foi anunciado o resultado da votação.
02. O placar apertado da cassação revela que os movimentos populares devem mesmo continuar afinados. E atentos. O corporativismo dos senhores parlamentares só não inocentou Naya exatamente por estar a questão na alça de mira de todos os brasileiros. A superexposição na mídia da tragédia do Palace 2 e as declarações do deputado insinuando-se autor de fraudes e contrabando ressoaram implacáveis na chamada consciência coletiva. Por estarmos em ano eleitoral, então, o peso das decisões dos congressistas procura estar em sintonia com a vontade dos prováveis eleitores. Nesse contexto, foi mesmo inevitável ouvir "a rouca voz das ruas".
03. Portanto, os analistas políticos anunciam: a temporada de cassações pode ter se esgotado aí. Outros processos estão pendentes no Congresso, mas sem os holofotes da mídia e o interesse da opiniao pública podem acabar zerados, como preferem "a maioria silenciosa" dos congressistas. Na lista dos ameaçados, com processo em andamento, estão Pedrinho Abrão (PTB-GO), Chico Brígido (PMDB-AC), Osmir Lins (PFL-AC), Zila Bezerra (PFL-AC), Adelaide Néri (PMDB), José Gomes da Rocha (PSD-GO) e Jorge Wílson (PTB-RJ).
04. Os motivos — sempre torpes — são diversos. Três deles (Chicão, Osmir e Zila) estão envolvidos no escândalo da compra de votos para reeleição de FHC. Adelaide, por ter alugado seu mandato para Chicão. Rocha usou a verba de representação do gabinete para pagar os salários dos jogadores do Itumbiara EC. Wílson manteve a filha contratada em seu gabinete por um ano, período em que a moça morou comprovadamente na Venezuela. Abrão é acusado de cobrar propina para manter os recursos destinados à barragen Castanhão no Ceará.
05. Há quem garanta que se não nos mantivermos atentos, com ou sem as luzes da TV e a bronca dos jornais, esses tais vão escapar ilesos. Assim como aquele ex-presidente que a Nação tirou do Poder, mas não o puniu como deveria. Ele continua refugiado, com suas pataguadas, em Miami e ameaça a voltar a vida pública a qualquer momento. Primeiro, Deus e depois nossa consciência nos livrem desses males… Nós e o Brasil não merecemos…
NR: Os amigos e familiares do inesquecível Ismael Fernandes, colunista de GI e autor do livro Memória da Telenovela Brasileira, reúnem-se amanhã, às 18h30, na Capela da Madre Paulina para reverenciar sua memória. Ismael faleceu em 18 de abril de 1996. Todos estão convidados a participar de mais essa manifestação de apreço e saudade.