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Porque hoje é sexta-feira de Carnaval

01. Hoje é sexta-feira, como nos ensina a canção que anuncia a cerveja, aquela dos amigos sertanejos que nos acenam (eles e a cerveja) com o final de semana repleto de prazeres e descanso. Os brasileiros merecem (não sei se a tal cerveja ou trinar desses menestréis eletrônicos), mas fazemos jus a alguns sonhos e venturas. Não porque o País anda para trás neste funil do fim do século e, sim, porque a batalha do dia-a-dia tem sido árdua, draconiana, diria aquele ilustre professor da FAI que atende pelo nome de Osmar. E nós temos comparecido assiduamente à luta e, apesar dos tropeços, das reformas e contra-reformas, dos tratados de sociologia e dos políticos, continuamos firmes e fortes, esganando um leão por dia (tenha o bicho a forma que tiver, impostos, multas, juros sobre juros, inadimplência…) para mantermos vivos o sonho e a esperança de uma vida digna, o sonho e a esperança de um futuro promissor.

02. Hoje, aliás, é a melhor sexta-feira do ano para a maioria (senão a totalidade) dos brasileiros. Faça chuva ou sol, é a luminosa sexta-feira que antecede o Carnaval e as promessas de boas venturas são tantas "que não vale a pena esquentar". A conclusão, é bom que se diga, não é do ilustre professor Osmar, mas está na boca e na mente de todos nós, pacatos cidadãos, especialmente quando se avizinha um feriadão prolongado. Mesmo para quem não sintonize o baticum das escolas de samba e dos trios elétricos, a possibilidade de uma viagem (mesmo que se chute as contas do dia 20 "pra não sei quando") é sempre bem-vinda, bem administrada e, supõe-se à primeira vista, bem curtida. E aqui não pesa a super lotação das estradas, a falta de água, a exploração do comércio e o caos próprio das grandes cidades que o paulistano, refastelado com a possibilidade de ser feliz, leva para as chamadas estâncias turísticas durante esses períodos. Tudo vale a pena…

03. O lema é abrangente — e enganoso demais, até porque a alma de muitos de nossos mandatários, ao contrario do que sugere a poesia de Fernando Pessoa ("Tudo vale a pena/se a alma não é pequena"), tem se revelado ínfima nos propósitos, mesquinha nos interesses, frágil quando defende essa abstração chamada coisa pública. Nessa timbalada, parece-me, faz sentido a pergunta: Qual seria o enredo apropriado para o Carnaval do País do Carnaval neste ano santo, de Copa do Mundo e eleições gerais?

04. Mesmo sem freqüentar as lides das quadras das escolas, ocorre-me sugerir como primeiro tema a saga do sociólogo que virou presidente e agora sonha com a reeleição, a qualquer custo (desde que saia do nosso bolso). Trata-se de um belo personagem. Um tanto quanto contraditório (na Constituição de 88, votou contra a reeleição, depois quando se elegeu presidente trabalhou acima da ética para que a emenda da reeleição passasse), mas que exala um certo charme, vindo de seus títulos de doutor honoris cause, talvez… Outro enredo me vem a baila, já com título e tudo: "Jorgina, fraudadora que se mandou para Costa Rica e, mesmo algemada e presa, não abriu mão (ou seria, o pescoço?) da gargantilha de pérolas e brilhantes". Não sei se cabe um desfile falando das reformas, almejadas reformas, sempre anunciadas, nunca concretizadas e agora na iminência de serem votadas, são tidas pelos porta-vozes do Planalto, inclusive o próprio FHC, como superadas e sujeitas a reparos mais adiantes…

05. Nem o lendário Stanislaw Ponte Preta, autor do sempre atual "Samba do Crioulo Doido", seria capaz de tanto desvario para narrar a tresloucada realidade brasileira, a que vivemos e a que estamos por viver, salvo haja uma correção de rumos. Tomara que nossa gente não deixe para reepensar o Brasil só na sexta-feira, dia 2 de outubro, antevéspera das eleições presidenciais.