E lá se vai o Papa Francisco a conturbar alegremente as ruas do Rio de Janeiro, com simpatia única e cativante a espalhar promissores ideais.
Assim como o santo que fez questão de reverenciar na escolha do próprio nome, Francisco parece determinado a reconstruir a Igreja em sólidos pilares de humildade, fé e, sobretudo, solidariedade.
O Papa não é pai, é irmão que se ombreia a todos nós, “gente como a gente”, como ouvi alguém dizer após vê-lo desfilar em carro sem luxo, e de janelas abertas.
O mundo, creio eu, precisa mesmo de tamanho comprometimento com o social, tamanha simpatia. Fora esse banho de espiritualidade é esperançoso ver a comoção que Francisco causa nos jovens de todas as idades que se emocionam com sua presença por aqui.
Tomara ele as inspire, mesmo quando se for.
II.
Aliás, as constantes quebras de protocolo de Francisco causam pânico e fragilizam todo sistema de segurança, previamente planejado para a visita. Em Aparecida, o papamóvel quase ‘atropela’ a repórter do SPTV – também ela, ávida por se aproximar do Pontífice. Um carrancudo agente a empurrou, ‘delicadamente’, para fora do caminho.
Depois, foi a vez do bom repórter José Carlos Burnier – desconfio que ainda em Aparecida. Chegou tão próximo do carrinho papal que não se conteve:
— Sei que o papa não dá entrevista. Mas, vou tentar…
Esticou o braço e o microfone e disse algo como “Papa, papa, está gostando do Brasil?”
E os telespectadores puderam ouvir a voz de Francisco:
— Obrigado, obrigado.
III.
Desconfio que o próprio José Carlos Burnier não saiba, mas sua espontaneidade repetiu – e fez lembrar-me de – outro José Carlos, também repórter de TV, o Tico-Tico, um dos pioneiros do jornalismo televisivo.
Repórter entrão e cara-de-pau, dizem até que, como Tico-Tico nunca houve. Era useiro e vezeiro em abordar as celebridades da época, e das formas mais imprevisíveis. Entre outras peripécias, atropelou JK à saída do Palácio da Alvorada assim que deixou a Presidência da República, ‘furou’ a segurança da Casa Branca e pediu uma mensagem do então presidente Kennedy aos eleitores brasileiros (!!!), abraçou o o cirurgião Christian Barnard e, tropeçando mo inglês, lhe perguntou na bucha como foi realizar o primeiro transplante de coração,
Certa vez – idos dos anos 60 – foi destacado para uma cobertura internacional na Itália e, por conta e risco, resolveu dar uma chegadinha ao Vaticano para ver o que arranjava. Soube que haveria uma aparição pública do Papa Paulo VI e se assanhou. Empurra daqui, escorrega dali, na hora dita e aprazada, lá estava ele frente a frente com o Sumo Pontífice, justo na hora em que o santo homem se preparava para dar a bênção.
IV.
O que fazer? Perguntar o quê?
Em segundos, achou a solução.
Ajoelhou-se diante do Papa e, ainda persignado, estendeu o microfone (de fio) próximo à boca papal. Aparentando tranqüilidade, fez o registro da oração.
Depois, se recompôs e, todo cerimonioso, encerrou a matéria:
“Uma bênção do santo papa Paulo VI a todo o povo brasileiro”.