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O Chaplin do Ipiranga

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Foto: Cena do filme “Luzes da Cidade”, 1931/Reprodução

Da série “50 anos de Jornalismo”, da qual tanto me orgulho, lhes trago mais um relato do repórter que fui – e, desconfio, continuarei a ser.

Coloquem aí uns 20 e tantos anos ou mais no fato que vou lhes contar.

Tinha uma reunião com o padre Antônio Brito, então pároco da igreja São José do Ipiranga.

Estou ali, na esquina das ruas Brigadeiro Jordão e Agostinho Gomes. Entro na padaria em frente para fazer hora e tomar um café até que chegue meu amigo e anfitrião.

Alguém na padoca me reconhece – “o jornalista da Gazetinha” – e se apressa em me apresentar a um ator, fã e sósia de Chaplin.

Estranho.

O homem está vestido a caráter, com uma flor em uma das mãos.

Chama-se Paulo Pasttella, mora no Ipiranga e aparenta estar (à época) nos arredores dos 50 anos.

Tudo o que o homem quer é manter “a imagem de Carlitos viva”.

Como?

Quer levar o mais famoso personagem de Charles Chaplin às escolas do bairro. da cidade, do país, do mundo.

Até aí quem falou foi o meu entusiasmado interlocutor/intermediário.

Como o bom repórter não foge da notícia.

Preferome apresentar ao Chaplin do Ipiranga – e dar voz ao artista:

“Quero mostrar para as crianças e para os jovens um filme de Chaplin, contar um pouco a história de sua vida e depois fazer a minha performance.”

Para ele, o personagem é imortal.

“Não podemos deixar que uma obra dessa grandeza e importância caia no esquecimento. Por isso, procuro fazer a minha parte.”

O ator diz interpretar o personagem Carlitos há quase 30 anos.

Mas, ressalta, tudo começou ainda criança.

“Meus pais assistiam aos filmes de Chaplin na televisão e um dia eu vi aquela figura engraçada, o Vagabundo. Me apaixonei pelo personagem e carrego esse amor comigo ainda hoje.”

Registre-se que o sentimento é tão grande que, mesmo no dia em que casou, Pastella participou de toda a cerimônia caracterizado de…

Carlitos.

“Esse personagem, embora cômico, possui sentimentos puros. Foi essa a infinita emoção que quis transmitir. Tive a ideia, contei para a minha mulher que logo aprovou.”

Confesso que naquela tarde achei o rapaz um tanto desanimado, triste mesmo, ao lembrar o episódio.

Pensei, mas não tive coragem de lhe perguntar se o casamento sobreviveu.

Enfim…

A paixão por Chaplin continuava ali. Firme e forte. Formou-se em Administração de Empresa e cursou até o terceiro ano de Ciências Sociais.

A propósito, fez questão de enfatizar que, antes de mais nada, representar Carlitos é “a grande missão a sua vida”.

Quando lhe perguntei por quê?

Ele repetiu as palavras de Chaplin para definir o amado Vagabundo.

“Carlitos é um riso e uma lágrima ao mesmo tempo.”

Não tardou para que o Padre Brito chegasse, com o habitual acolhimento a todos.

Meu intermediário/interlocutor entendeu que tínhamos um encontro antecipadamente marcado.

O rapaz se apressou, então, em me perguntar quando poderia levar o artista à redação para uma longa entrevista.

Respondi que ficasse por ali mais uns 15, 20 minutos, que logo chegaria o fotógrafo do jornal.

Seria rápido.

“Mas, e a entrevista?” – ele me perguntou.

– Tá feita, respondi.

Deixei um conselho, no particular:

– Pede a ele pra melhorar o humor. Chaplin sempre foi mais sorrisos do que lágrimas.

Ainda nenhum comentário.

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