Desconfio que fora o acaso (ou o destino) que os juntou ali, naquele provinciano banco de praça em um parque qualquer da cidade.
Vamos identificá-los para facilitar a narrativa da história: o Mago e a Moça.
Conversavam como se desvendassem, a cada palavra, o mais saboroso dos mistérios.
Estavam à vontade e, me pareceram mesmo eu à distância, felizes.
Aposto que nem ele nem ela queriam estar em outra parte do Planeta, com outra pessoa, naquele preciso instante.
Aposto mais.
Conheceram-se recentemente, e havia um encantamento mútuo.
Inexplicável, mas raro de se encontrar e bom de viver.
II.
Como lhes falo de tudo isso, se estava à distância.
Ora, meus cinco ou seis fiéis leitores bem sabem que tenho uma tendência a ficar imaginando coisas, especialmente diante de situações que podem virar uma gostosa crônica que fale da vida e de amores.
Lembrei o Poetinha centenário, Vinicius de Moraes (“A vida é arte do encontro”), e resolvi ficar por ali, meio escondidinho, na boa.
III.
Era ele quem mais falava.
Imagino que contasse histórias e estórias pessoais e de outros.
Talvez inventasse alguma coisa, só para impressionar a Moça.
Sabemos como são os mágicos, cheios de truques.
Ela também, vez ou outra, engatava um comentário.
Mas, na maioria das vezes, ouvia atentamente; em algumas ocasiões, como se a própria Moça fosse ela personagem das longínquas histórias que o Mago narrava.
IV.
De quando em quando, havia uma pausa.
O celular da Moça dava sinal de vida – e ela se punha a teclar sabe lá o quê, para quem…
Coisas do mundo de moderno que não importunavam o Mago que, nesses momentos, se punha em silêncio a mirar a lua e, imagino, a buscar novos detalhes do causo para impressioná-la.
V.
Ficaram assim por hora e tanto; talvez duas, sei lá…
(E eu ali à espreita de um final feliz)
Até que resolveram se despedir.
Já dera a hora de cada um.
O Mago, à moda antiga, acompanhou a Moça até o carro e se cumprimentaram com um longo abraço… Demoraram preciosos segundos para desgrudar-se, não sem antes olharem-se fixamente um nos olhos do outro.
“Foi ótimo”, mesmo longe, intui que foi assim, com essa sensação, que se afastaram, querendo mesmo era ficar por ali até o fim dos tempos.
VI.
Uau, há de dizer o leitor mais malicioso, se o clima era esse, por que ficaram só no ora veja? Não se diz pela aí que hoje é tudo no vapt-vupt, dos peguetes e tal?
Pois, então, meus caros, eis o mistério, o mais saboroso dos mistérios.
Não sei de por inspiração do Mago ou por algum truque da Moça, ambos entenderam que ainda não era hora…
Talvez um dia fosse…
Talvez não.
E daí?
O encontro é a arte da vida.