Era de causar admiração a emoção do professor José Sebastião Witter na primeira semana de dezembro de 1999.
O professor despediu-se do cargo de diretor do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, o Museu do Ipiranga, por obra e graça de alguns trâmites burocráticos que o obrigaram a se aposentar, após 48 anos de vida acadêmica, dentro da instituição. Uma série de eventos marcou aqueles dias que incluiu a posse da nova diretoria, um jantar em sua homenagem organizado pelas lideranças locais e a inauguração da majestosa iluminação externa do centenário prédio do Museu, seu último ato como diretor.
Todos esses momentos, a bem da verdade, surpreenderam esse paulista com olhos de menino espantado, como a quem vislumbrasse o mar pela primeira vez.
“Foi o coroamento da minha carreira na USP”, confessou mais tarde.
O emérito professor doutor em História, membro da Academia Brasileira de Educação, escritor compulsivo, cientista, pesquisador e “marqueteiro” (como ele gosta de se definir) testemunhou, naquela noite, e com justificado orgulho, a luminosidade de uma obra que se revelara impossível há seis anos (1993) quando aportou no bairro do Ipiranga. Não sabia da “hercúlea” tarefa que o esperava ali na chamada Colina Histórica.
Chegou para reerguer o combalido prédio do Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Àquela época, tão distante da comunidade que lhe emprestou o nome quanto da Academia.
O Museu vivia um período dramático, de ostracismo e abandono.
(…)
II.
O texto acima faz parte da apresentação da minha dissertação de mestrado “A Nova Imagem de Uma Instituição Centenária” – eu a defendi em 2000 e, já naquela ocasião, retratei a triste realidade vivida por uma das mais importantes históricas do País: o Museu Paulista da Universidade de São Paulo, popularmente conhecido como o Museu do Ipiranga.
Minha principal fonte, o professor José Sebastião Witter, já manifestava o temor que, após sua saída, todo esforço que fizera para recuperar o Museu poderia se perder. Um patrimônio daquele quilate precisaria de cuidados constantes e sobretudo o empenho dos diversos segmentos sociais que compõem a base de sobrevivência da Instituição: o Município, o Estado, a Federação, a própria Universidade, o bairro do Ipiranga e mesmo a iniciativa privada.
Trata-se de um intricado jogo de responsabilidades: o Museu pertence à USP que pertence ao Estado. O Parque da Independência, onde está localizado, é de âmbito nacional, e está sob os cuidados da União. Mas, quem faz os serviços de conservação e preservação de toda a área é a Prefeitura.
O professor Witter conseguiu reunir, na sua empreitada, várias forças da sociedade para “amparar” o Museu – Fundação Roberto Marinho, O Estado de S. Paulo, FIESP, o Ministério da Cultura, as secretarias estaduais e municipais. Chegou inclusive a implementar a criação da Sociedade de Amigos do Museu do Ipiranga para que seu legado tivesse prosseguimento – e todo aquele esforço não fosse em vão.
III.
No sábado, tirei a manhã para um passeio pelas trilhas e alamedas do Parque da Independência. Vi com tristeza a entrada do Museu interditada ao público e, segunda ali me informaram, sem prazo para a reabertura.
As reformas estão programadas, e só devem estar concluída depois de 2020.
Lembrei-me do saudoso amigo e mestre que nos deixou há dois, três anos. Que falta faz ao Brasil de hoje intelectuais empreendedores e comprometidos com o social como o grande professor Witter.