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O que o tempo leva… (13)

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UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Leila Cunha)

Alguém – não sei se foi algum funcionário – ligou o som da Pousada.

A voz de Flávio Venturini ecoou a conhecida toada mineira:

“E lá se vai mais um dia…”

Por conta e risco, junto para mim mesmo dois outros trechos a rememorar o lúdico Clube da Esquina:

“Que a chama não tem pavio, pois…”

Os sonhos não envelhecem”

Ainda por conta e risco, penso reverente em Carlos Artúlio e Felisberto, dois sonhadores.

Quem mais assim haverá por aqui?

Difícil dizer a luz e os mistério que cada um traz dentro de si.

Talvez – e humildemente – eu poderia me incluir entre os tais. Com minhas limitações e parvo ceticismo.

Há um tempo para ler – e outro para reler.

Assim são os livros, a vida, os amores.

A verdade é que se faz hora de ir.

Reparo o vaivém de todos – e do Felisberto, o filósofo-motorista em especial.

Vim com ele, acredito que devo voltar no mesmo carro.

Foi um dia e tanto.

Acertei em ficar.

Por falar em ficar, e se o Degas aqui esticasse a estada por mais uns dois ou três dias na Pousada Estrela dos Boêmios?  (Eita nome lindo, inspirador!)

Seria uma trabalheira e tanto.

Vão me chamar de turrão de novo – e sempre. Estou só com a roupa do corpo e (que os novos amigos não nos ouça) o celular descarregado…

Deixa pra lá.

Um dia eu volto.

Assim como voltei para o paraíso da praia de Maria Gorda na acolhedora Ilha de Cuba, para Brugges – a cidade onde se imagina estar dentro de um presépio, para Sorrento, o sol de Sorrento…

Sou um tratante.

Sempre submisso ao autoengano.

Carlos Artúlio continua por aí. A divertir-se e divertir os convivas. Dá para perceber que ganhou um ruidoso fã clube. Lembro que, quando na ativa, um de seus (dele) espetáculos mais aplaudidos foi um recital a partir da obra de Fernando Pessoa. Era um tempo difícil, dos horrores ditatoriais. Sua arte representou um bálsamo para nosso desalento, de então:

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Nunca posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim

Todos os sonhos do mundo

Agora, porém e adequadamente, está mais ameno.

Ouvi a pouco ele declamar Mario Quintana, a frase poema que em si só se basta:

O tempo é um ponto de vista do relógio.

O tempo e a distância, eu diria.

Ainda e a propósito daqueles idos em que cismei de percorrer o Caminho de Santiago, uma amiga, a esotérica Solange K (nunca descobri o nome verdadeiro), ao saber das minhas vãs intenções, foi direta e reta:

– Pra que ir tão longe? Se mesmo por aqui temos a oportunidade reveladora da peregrinação nossa de cada dia. Dar conta dos afazeres e compromissos diários a cumprir, eis o passo que faz o caminho.

Confesso. Num primeiro momento, eu a vi como uma grandíssima estraga-prazer. Só me conformei, quando deu o veredicto:

– Mago não é quem quer. É quem se dá ao trabalho.

Melhor acompanhar a movimentação da turma.

Começaram as despedidas.

Aceno para Carlos Artúlio:

– Prazer conhecê-lo. Eu volto…

Ele sorri, retribui a promessa com as mãos espalmadas para o alto.

Não preciso dizer, mas digo.

Não lhe deixam em paz.

Pedem, suplicam o número do celular que ele não tem, garante.

– Por isso, gente boa, estou fora das tais redes sociais. Não me verão no Face, no Instagran, no WhatSaap…

Ó indignação de todos e todas!

Mas, qual a razão, perguntam.

– Perdoem-me a franqueza. Não gostaria que me seguissem. Não tenho para onde ir. Estarei sempre por aqui. Voltem quando quiser. De resto, nessa altura da vida, estou dispensado de  seguir quem quer que seja.

Nada de adeus, portanto.

– Só cafezinho, com pão de queijo. Sirvam-se…

Oba!

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