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O que o tempo leva… (19)

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UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Foto: Jô Rabelo)

 

E FELISBERTO se aproxima de Lucilinda, a mulher da sua vida…

 

– Pois não, madame! Em que posso serví-la?

Felisba usa o melhor tom de voz, algo assim próximo aos antigos locutores da Rádio Eldorado que, por recomendação do patrão,  ele era obrigado a ouvir diariamente no Gera Park.

(Ao menos agora a entendiante experiência lhe servia para algo.)

– Ah, Fofo, tô vindo morar aqui pertinho e vou precisar de um lugar para guardar meu carrinho. Ah, esqueci de dizer: meu nome é Lucilinda… Luci ou Linda, a gosto dos amigos.

O falar de Luci ou Linda, ainda está em dúvida como chamá-la, bate forte, tonteia, faz sonhar.

Ele, por ser o gerente geral, sabe bem que o estacionamento está mais do que lotado.

Em nenhum instante, por mas breve que fosse, passa-lhe pela cabeça deixar de atender à mulher da sua vida.

Sim, já, naquele preciso momento, Felisba estava certo que Luci ou Linda, ó dúvida cruel, era a mulher com M maiúsculo, a mulher da sua vida.

– Ora, ora, madame, estamos aqui para melhor servir aos clientes e amigos.

Felisba vai falando e, ao mesmo tempo, empilha, em pensamento, todos os carros, uns sobre os outros, para abrir uma vaga especial para o possante de Luci ou Linda (resolverá essa pendência, nos próximos parágrafos, promete a si mesmo).

Não foi preciso radicalizar, porém.

Lembrou-se do gringo, Sr. Ambrósio, que guarda o carro ali, mas passa férias na Praia Grande.

Ele deixou a chave no contato.

Ao menos nesta semana, é certo que ele não volta.

Pronto. Manobra daqui e dali.

Questão resolvida.

Felisba sente-se perdidamente apaixonado.

Papo vai, papo vem, a verdade é que tal encontro mudou radicalmente a vida de Felisberto, o gerente geral, manobrista e único funcionário do Gera Park-Vila Monumento a 500 metros do Monumento à Independência do Brasil. Ali, onde o Imperador, aquele mesmo que pousou em Bananal e hoje repousa, parcimonioso, ao lado das duas esposas, Dona Amélia e a Imperatriz Leopoldina.

Há quem diga que, pelas alamedas que unem o Monumento ao Museu do Ipiranga, em noites de lua cheia e avermelhada, é possível vislumbrar a silhueta da Marqueza de Santos, cantada em prosa e verso como único e verdadeiro amor da vida de Pedrinho I.

“No creo en brujas pero que las hay las hay”.

Voltemos ao Gera Park que lá está a paixonite do momento.

É claro e certo que Felisba deu um jeito de arranjar uma vaga para a fera da bela.

Pobre Sr, Ambrósio!

Quando chegou de viagem, o Opalão precioso (que tanto estima e cuida) estava que era só o pó.

Dormiu ao relento num canto descoberto do pátio do estacionamento.

Lucilinda, então, passou a ser presença constante por ali.

No mínimo, quatro vezes ao dia.

Pela manhã, às sete e quinze em ponto, quando vai para o trabalho.

E Felisba suspira.

Entra e sai na hora do almoço.

O atencioso funcionário faz questão de acompanhá-la na manobra e no ir-e-vir.

À noitinha, coisa de moça educada, antes das oito está guardando o Fusca.

Felisba a acompanha até o portão e certifica-se que entrou em casa a coisa de dois quarteirões distantes.

Ou seja, em toda a movimentação, faça chuva ou faça sol, ela conta com a atenção exclusiva (e calorosa) de Felisba.

É madame pra cá. Fofo, pra lá.

Risos, cumprimentos, breves conversas, comentários sobre o dia a dia.

Nada muito longo, é certo.

Mas, o básico e necessário para derreter o coração daquele que jurou não se meter em outra esparrela amorosa.

– Ah! Fofo, tive um dia daqueles. O telefone não parou de tocar.

– Eu, modestamente, também madame. Isso aqui entupiu de avulsos. Sabe como é, né? Foi uma loucura.

Ambos sorriem, com algum enlevo.

Será?

 

 

 

 

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