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O que o tempo leva… (22)

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UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Lorotas de um aloprado contra-regra e a revelação do palpitante romance, aquele que é sem ainda nunca ter sido…

 

Foi num desses êxtases que o Sr. Camargo flagrou todo o lance.

Entendeu o ululante do óbvio: a morena Lucilinda e o catatônico funcionário caidaço por  ela.

Que história!

Maldoso que só.

Bateu uma invejinha, creio.

Acontece que, além de dono do Gera Park Estacionamento, o Sr. Camargo era um inescrupuloso gozador, daqueles que se dispõe a perder o amigo (no caso, o funcionário) para não perder a piada.

Embicando na curva derrapante dos 60, o tal é cheio de contar causos.

Guarda um jeito moleque de sacanear quem quer que seja.

Quem o conhece mais à vera diz que não faz por maldade e, sim, por instintiva diversão.

“É das antigas, não reparem, do tempo em que não havia o politicamente correto”.

Trouxe este, digamos, pecadilho dos anos em que trabalhou de contra-regra na TV, nem sequer havia videotape e se fazia teleteatro na unha, ao vivo.

Todos na turma – inclusive o Felisberto – já sabiam de cor e salteado a lengalenga sobre o dia em que Camargo aprontou pra cima do grande Procópio Ferreira, então o ator número um da dramaturgia brasileira, aclamado e festejado até no continente europeu.

“Morava numa mansão, ali, perto do Jóckey Club” – cheio de querer mostrar intimidade.

Ah, esse Sr. Camargo é bom de conversa.

A história é a seguinte, vou lhes satisfazer a curiosidade:

O personagem de Procópio Ferreira teria que, em cena, assassinar a mulher amada com dois tiros. Era o ápice da noite. TV ao vivo, como lhes disse, não permitia erros. Procópio, idem. Tomado de incontrolável ciúmes, o ator retiraria o revólver da gaveta de um dos móveis do cenário e… bam! bam!… mataria Cleide Yaconis. Ou seria Lolita Rodrigues. Talvez fosse a Hebe Camargo. Ou mesmo a própria filha, Bibi Ferreira.

Nesse ponto, Sr. Camargo sempre muda o nome da atriz.

Nosso indigesto contra-regra distraiu-se. Esqueceu e não colocou a arma no lugar combinado. E o grande Procópio não teve dúvidas. Tomado pelo fervor que a cena pedia – e com ganas de trucidar Camargo -, colocou dois dedos em riste mais o polegar para cima e acionou o imaginário gatilho… bam!bam!…executou Márcia Real. Ou seria Natália Thimberg, talvez fosse a Laura Cardoso.

A coxia veio abaixo, tamanha gargalhada.

A cena marcava o fim do segundo ato. Nunca ficou provado, mas é bem provável que o episódio determinou o adeus à promissora carreira televisiva de Camargo. Aliás, sempre que narra essa história, além de mudar o nome da atriz (“Acho que foi minha comadre Sonia Ribeiro?”), ele se autoproclama um injustiçado:

– Queiram ou não, merecia outra oportunidade. Afinal, protagonizei um dos clássicos do improviso da TV brasileira.

Disposto a divertir-se como nos idos tempos, o Sr. Camargo ficou maquinando como poderia tirar proveito da situação.

Sábado à tarde seria uma boa ocasião, pensou.

Os marmanjos vão jogar um futebol-society e depois seguem para o  Gera Park.

Lá no fundão armam a churrasqueira e comem e bebem e se espalham num papear até a madrugada de domingo. Bando de avulsos, sem famílias…

Pagode, não. A vizinhança reclama do batuque.

Nem precisaria, a atração já está programada:

“Vamos zoar o Felisberto Carreiro.”

 

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