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O que o tempo leva… (24)

UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Foto: ARQUIVO PESSOAL)

 

O AMOR, sentimento que contagia, e essa tal felicidade que sempre incomoda àqueles que não sabem amar e, portanto, não sabem viver…

 

Rolam as pedras e os dias.

Quase todas, mais dias, menos dias, despencam montanha abaixo.

Os dias, enigmas a decifrar, também rolam só que à própria maneira, silenciosos ou não; transformadores, sempre. Mudam a vida, as feições, os sentimentos. Nem sempre nós, os passageiros da agonia, nos damos conta que, inclusive, transformam a nós também – e como!

O que não conseguiram mudar, creiam, foi o romance imaginário de Felisba e Lu.

Novidade, novidade mesmo, Lucilinda trocou o Fuscão verde 71 por um Ford Escort XR-3 preto turbinado.

“Carro de cafa” no vaticínio de Tonhão, o tal da chapa quente, aquele mesmo, quando vê o carango pela primeira vez.

– Sei não, viu, aí tem…

Novamente, é o atento Sr. Camargo que intervém em nome do funcionário e a favor da moça:

– Tem o quê, santo Deus? Se o nosso Berto Carreiro ouve, você vai ficar com a cara mais achatada do que já é. Só vê maldade nas coisas. Não conhece a moça, deixe implicações.

Lucilinda, convenhamos, tem lá a vida fechada a sete chaves.

É simpática, mas não permite qualquer tipo de aproximação. Trabalha num escritório de contabilidade, dá um duro danado para pagar o aluguel do espaçoso sobrado onde mora, pertinho do Gera Park, com a mãe e mais quatro irmãos.

Lúcio Mauro é o caçula, nome de artista, de vez em quando aparece no estacionamento pra ver o carro da irmã.

É só o que se sabe.

É só o que ela permite aos outros saberem.

Ninguém nunca tocou no assunto do suposto romance com ela.

Vez ou outra, Felisba lhe telefona sempre com uma desculpa. Um vazamento de óleo que ele, atento, detectou. Um esquecido farol aceso ou se quer que providencie a lavagem completa. Coisas que, a bem da verdade, um gerente geral zeloso nunca deixa escapar, especialmente se estiver apaixonado pela proprietária do automóvel.

É também verdade que, por vezes, quase sempre, ele tenta esticar o assunto. Mas, não consegue engatar uma frase atrás da outra quando sai do temário que domina – carro, estacionamento, vazamento, farol…

Ela mostra-se educada. Ouve, faz perguntas, agradece, despede-se.

Não quer magoá-lo.

Ele não merece.

Sempre que ouve a voz da mulher amada, a moça do XR-3 preto (assim é agora conhecida no pedaço), Felisba fica eufórico, digamos assim. Sonha com a vida comum, os filhos, os olhos invejosos da turma toda.

Estranha só que, ultimamente, o pessoal anda com risinhos bobos, de canto de boca, quando o veem. Um cochichar daqui, outro dali. Bando de alcoviteiros, isto sim. Não acreditam num grande amor.

– Não suportam ver ninguém feliz, conclui.

Sr. Camargo, não. Sempre que fala no assunto é cordial, respeitoso. Um homem de classe.

Outro dia mesmo sugeriu que Felisba mandasse flores para a amada.

Dispôs-se até mesmo a lhe adiantar uns cobres para dar conta do ramalhete. Aliás, nada de adiantamento, vale. Seria um presente da casa, afinal Felisba era um exemplar gerente-geral e, convenhamos, foi lá que tudo começou.

Sugeriu inclusive algumas frase de efeito rápido no coração das moças, tipo “vida da minha vida”, sonho do meu sonho”, “razão de viver”.

Felisba só teria que entregar o buquê em mãos à frente de todos- e esperar o prêmio que, óbvio, viria, ah, se viria.

O gerente geral topou na hora. Felicíssimo.

E todos os presentes – aqueles a quem, imaginou, minutos antes, uns alcoviteiros – agora brindam a felicidade do casal.

O amor é mesmo contagiante.

 

 

 

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