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O seu, o meu, o nosso…. O deles!

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Foto: Reprodução de imagens da TV Globo

Primeiro foi o amigo Amândio, do Ipiranga.

Ele me enviou um vídeo que registra o início da demolição do que chamávamos “tobogã” no Pacaembu, aquele, o ex-próprio da Municipalidade, como anunciava, desde sempre, a voz inconfundível do locutor oficial do estádio.

Não curti o que vi. Causou um ‘ô tristeza’ dentro de mim.

Depois, durante o dia, li o que escreveu a jornalista Marilia Ruiz no UOL.

O que desancou o Vitor Guedes na coluna Caneladas do Vitão, no Agora.

Zé Trajano, que está de livro novo Aqueles Olhos Verdes (vou ler!! alô, Correios agilizem a entrega), também meteu bronca no UOL.

Também o debate no Seleção SportTV sobre o mesmo tema.

Paulo Vinicius Coelho, o PVC, quer que o estádio volte a funcionar. Nem aí, pro nosso ‘toboga’ dos pobrões.

Arnaldo Ribeiro falou que é a “elitização do futebol”.

O apresentador André Rizek muretou.

Bateu uma cisma tardia.

Devo ter sido deselegante com o amigo Amândio, sempre tão atencioso.

Não lembro bem a resposta que lhe encaminhei no zap, mas foi em tom de resmungo.

Tá certo ele! O tobogã sempre foi considerado uma aberração que destoava da bela e sinuosa linha arquitetônica “do meu, do seu, do nosso Pa_ca_em_bu”.

A concha acústica que existia no meu tempo de menino, de fato, era mais a cara do estádio.

Vintage, diriam hoje – e deveria ser preservada. Concordo.

Mas, incrustar a trapitonga de um  shopping no lugar, não me parece que atende às tais e referidas tradições.

Fará, talvez, tenho lá minhas dúvidas, a alegria do bolso de quem o arrendou por 35 anos.

De boa, nada a ver com o Planeta Bola.

Além do que vão ter que ter que mudar o slogan do locutor:

“O seu, o meu, o nosso… O deles. Pa_ca_em_bu!”

Para ser franco, ali eu sempre me senti em casa.

E olhem que comecei cedo a frequentar estádios de futebol.

Que me perdoe a santíssima trindade do estádio do Verdão – o Parque Antarctica, o Palestra Itália e agora o Allianz Parque (eu conheci e vi jogos nos três) -, mas, sei lá…

Coisa do garoto suburbano que eu fui e sempre serei.

Pode ser – e é!

Já contei dezenas de vezes a história aqui, no Blog.

Íamos a todos os jogos – nós, os barulhentos garotos da turma da Muniz de Souza, no bairro operário do Cambuci.

Íamos às vezes à pé. Cortando o Centro de São Paulo.

Em dias mais ousados, pedíamos ao cobrador deixar a gente descer pela porta de trás sem pagar.

Ou, no vacilo do tal, descíamos assim mesmo ao abrir da porta para a entrada de outros passageiros.

– Eita, moleques! Não têm educação, não!

Menores de 12 anos não pagavam ingresso.

Bastava estar acompanhado de um adulto no momento de passar pelos afamados “portões monumentais”.

A solução era simples.

Ficávamos nas imediações. Assim que encontrávamos um senhorzinho simpático, clamávamos, um a um, na maior caradura:

– Posso entrar com o senhor? Meu pai está lá dentro…

Nunca ficamos de fora.

Valeu a peraltice. Sempre!

Naquele gramado, eu vi jogar o melhor de todos: Pelé.

O segundo melhor de todos: Garrincha.

E mais: todos os craques que povoaram o imaginário da minha infância e adolescência.

Dá até uma zonzeira lembrar de tantos nomes.

Craques que eu imaginei ser:

Roberto Dias, do São Paulo.

Tarcísio, um quarto-zagueiro estiloso que jogou no Palmeiras.

Rafael Chiarela, elegante meia-armador do Corinthians.

Cláudio, inesquecível goleiro do Santos.

E principalmente – olhem que curioso – Altair, lateral esquerdo do Fluminense, o rei dos carrinhos, reserva de Nilton Santos na Copa de 62.

Um capítulo à parte.

Foi lá que vi pela primeira vez o garoto sarará Ademir da Guia jogar pelo Bangu contra o Palmeiras.

Tinha 17 anos, era filho do grande Domingos da Guia. Que o Velho Aldo, meu pai, dizia ter sido o melhor zagueiro de todos os tempos.

Foi num jogo amistoso, noite de quarta-feira. Que marcou a (re)estreia do atacante Humberto Tozzi no Palmeiras.

Ele voltou depois de um tempo jogando no futebol italiano.

Para meu encanto, semanas depois, Ademir da Guia transferiu-se para o meu Palestra.

Nunca imaginei ser Ademir da Guia.

Sempre soube que o Divino era único, incomparável.

Fez parte da primeira Academia:

Valdir, Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina e Ferrari, Dudu e Ademir da Guia, Julinho (Gildo), Servílio, Tupãzinho e Rinaldo.

Comandou epicamente a segunda Academia:

Leão, Eurico, Luiz Pereira, Alfredo e Zeca, Dudu e Ademir, Edu, Leivinha, César Maluco e Nei.

Quem viu viu…

Quem não viu, recorra ao You Tube.

(Mas, adianto, não é a mesma coisa…)

Sabiam que foi no Pacaembu a abertura dos Jogos Pan-americanos de 1963, realizados em São Paulo?

Adivinhem quem estava lá?

A turma da Muniz.

Saudamos os gringos nas arquibancadas e a chegada das delegações de atletas, com nosso samba-enredo:

Serenôooo

Da madrugada,

Quem mandou você cair

Atrapalhou a batucada

Do Império do Cambuci

Molecada folgada que só, não?

Uma pena que esse Pacaembu – cartão postal da cidade, palco de notáveis eventos esportivos e sociais, motivo de recordações e saudades para tanta gente, de várias gerações – não tenha sido tratado pelas diversas administrações paulistanas – e esta especialmente – com o respeito que sempre mereceu.

Patrimônio cultural da cidade de São Paulo.

Tombado, não para ser destruído em corpo e alma.

Merecia atenção, cuidado e afeto.

Entregar à iniciativa privada foi um grande equívoco.

Penso assim. Romântico, talvez.

Um descaso.

Uma estupidez.

Nada que  me surpreenda diante da falta de sensibilidade dos dias atuais.

Trocam nossas lembranças, nossos sonhos, nossas vidas por um troco qualquer.

Vejam o caso das vacinas Covaxin…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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