O Sales é poeta, mas é meu amigo.
Ele é corintiano, mas é meu amigo.
Diz quer pertenceu a um tal Partido Humanista, relevo.
Vota nulo, e aí o bicho pega quando o assunto escorrega para esse tema.
Sou contra o voto nulo.
Não lhe dou a representatividade político-ideológica que o Sales lhe atribui.
Entendo que, diante das urnas, somos livres para fazer o que melhor nos aprouver.
Mas, abrir mão do direito de votar em alguém é o mesmo que se anular como cidadão – e deixar que escolham por nós.
II.
Lembro-me de outro amigo, o Fernando Saliba, que nos criticou a valer no segundo turno da eleição presidencial de 1989, pois a Redação estava rachada na ocasião. Uma parte dos não petistas – eu, por exemplo, havia votado em Mário Covas no primeiro turno – havia cogitado anular o voto no segundo escrutínio.
Saliba bateu duro.
— Anular o voto dá no mesmo que votar no Collor.
Todos ali, na velha redação de piso assoalhado e janelas para a rua Bom Pastor, tínhamos consciência de que Collor seria um desastre – o que acabou acontecendo.
Saliba tinha razão.
Aprendi a lição.
III.
Venho de uma geração que cresceu sob o tacão da ditadura.
Acompanhamos a luta de tantos – por vezes, com risco da própria vida – para a reconstrução da democracia no País.
Era – e é – o único caminho viável para alcançarmos a justiça social.
Tanto a democracia plena e a justiça social são metas ainda a serem alcançadas.
Sei bem que nem tudo foram flores nessa caminhada. Os percalços são inevitáveis quando se trata das almejadas transformações sociais.
Daí, a importancia da escolha de cada um de nós para elegermos os melhores.
É votando que se aprende a votar.
IV.
Votar nulo é apostar no caos.
Que não há mais saída.
Que ninguém se salva.
Nem o próprio eleitor.
V.
(Mesmo não concordando com ele nesse aspecto, o Sales é um grande amigo. E o time dele está bem melhor do que o meu…)