"As aparências não se enganam. A gente é que se engana com as aparências" (Alexandre Brito)
01. Vamos ao que se pode, como diria Chico Buarque, cantor, compositor de talento imensurável e futebolista irremediável que, na curva dos 60, ainda arrisca dribles e gols nos campinhos de futebol society da vida.
02. E o que se pode nesta sexta, quando o centro da Terra muda de nome e endereço? Passa a se chamar Planeta Bola e todas as atenções voltam-se para Coréia e Japão. Lá, onde o sol se esconde, 32 nações começaram hoje a disputa da suprema honra de ter a hegemonia mundial. O que conta não são armamentos, estratégias militares ou as protocolares regras diplomáticas. Menos ainda pesam os ardís políticos ou as mazelas e interesses que contemplam o jogo do poder. O que vale é ser o melhor num envolvente esporte chamado futebol.
03. E o que se pode, então, é falar de futebol. Ou você, prezadíssimo leitor, quer conversar sobre a escolha de Rita Camata como vice de José Serra (palmeirense que vestiu a camisa do Corinthians para angariar incautos eleitores)? Prefere, por exemplo, questionar os pareceres dos agentes financeiros internacionais sobre a crise na Argentina (justo agora que os portenhos se transformaram em favoritos do Mundial, especialmente depois que a França perdeu o Zidane)? Será que, com a aproximação do inverno, poderíamos conversar sobre vinhos? Portugueses, espanhóis, franceses, italianos e alemães são os melhores — e também os principais rivais da seleção de Felipão, que é o que nos interessa e certamente será motivo de nossas alegrias e tristezas nos próximos 30 dias.
04. Sobre a seleção do Felipão, aliás, muito tem se falado. Até o New York Times deu chamada de primeira página para o escrete. O texto do correspondente Larry Rother é contundente. Tem como título, uma constatação: "Para os brasileiros fãs de futebol, a apatia está substituindo a paixão". E relaciona as causas: Um técnico impopular. Uma escalação que deixou de fora o goleador mais consistente. Um escândalo fétido e aparentemente sem fim.
05. O papel aceita tudo. Por isso, muita calma na hora em que for escrever. Olhar atento e pensar nas conseqüências desse arrazoado de letrinhas, nunca foi demais. Prudência sempre — ensinou-me um velho e saudoso jornalista. Daí, posso me dar ao direito de calmamente discordar das causas apresentadas pelo colega ianque que, a bem da verdade, de futebol ou soccer nada entendem e mal praticam. Felipão não é tão impopular assim ou como pretendem que seja a quase totalidade dos jornalistas brasileiros. Foi o próprio Romário que se excluiu do grupo por ser um ególatro nato e também porque já mal se agüenta em pé. E o escândalo da CBF é vergonhoso, precisa ser apurado, denunciado e os culpados devidamente banidos do futebol. Mas, com sinceridade, a gente continua a gostar do futebol como sempre gostou. Tenho absoluta certeza de que quando a seleção estiver em campo, na madrugada de segunda, estaremos todos grudados na telinha, coração acelerado e com o grito de gol entalado na garganta… Afinal, para o Planeta Bola, futebol e Brasil são sinônimos e significam arte e vida. Força, Brasil! E viva os Ronaldos, o Rivaldo, o Denílson e o Roque Júnior!