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Tempo de alerta

"Sempre que ensinares, ensina também a duvidar do que ensinas" (José Ortega y Gasset)

Você votaria num candidato a presidente que não tivesse concluído o curso primário e que tivesse, como formação, única e exclusivamente o fato de saber ler, escrever e fazer as quatro operações? E num candidato que viesse de uma família, digamos, assim, assim? Alguns diziam que o pai, por exemplo, tinha
alma de vagabundo e nunca seria escolhido como operário-padrão. Votaria em alguém que viesse de um dos Estados mais atrasados da Federação, com sotaque típico, em meio à rudeza dos que não se refinaram para as lides públicas?

Que tal um candidato que radicalizasse em relação às questões do trabalho, especialmente no campo? Uma última questão: Sobre quem você acha que estamos falando? Pode guardar o sorriso e eventualmente a raiva. O que escrevi não é sobre quem você está pensando. É sobre Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos que, entre outros feitos, libertou os escravos naquele país. Baseei as perguntas acima, a partir da leitura de uma espertíssima crônica, "Um Texto Que Merece Reflexão", que o educador e professor da Universidade de Campinas, Rubem Alves, escreveu ainda na ante-véspera do pleito presidencial de 1989. Aliás, recomendo a íntegra do texto que, a certa altura, conclui muito sabiamente que a História está cheia de situações parecidas — e é só por isso que podemos aprender dela. Repassei o texto em sala de aula com os alunos de Jornalismo, nesta semana, justamente para comentar as capas das quatro revistas semanais de informação (Veja, Isto É, Época e Carta Capital).

Cada uma delas, a seu modo, tratou das eleições presidenciais em suas reportagens de capa. O título da revista Veja foi sintomático: "Por que Lula assusta o mercado". Sobre um fundo negro, com borda vermelha, o rosto do candidato do PT vê, sem ação, crescerem os indicadores de intenção de voto no seu nome, na mesma proporção que sobe o índice do chamado Risco Brasil, como o setor financeiro internacional avalia a capacidade do país caso Lula vença. Para quem não ler as 10 páginas de matéria, fica valendo a mensagem que a capa expressa: "Tempos negros vêm aí". Reitero aqui o alerta para tudo o que for dito e escrito na mídia a partir de agora. Há um complexo jogo de interesse em questão. Nesta semana, passou no Congresso a aprovação da abertura dos veículos de comunicação para o capital estrangeiro — agora, falta a regulamentação. É mais um passo para que se instaure a ditadura do poder econômico no país que, nos últimos oito anos, não fez outra coisa senão servir a outros tantos senhores.

Outro sintoma do cerceamento do livre direito à informação que todo cidadão tem: a revista Carta Capital foi proibida, por uma liminar, de publicar a entrevista de um ex-companheiro de campanhas eleitorais do governador do Rio, Anthony Garotinho. É a volta da censura prévia e um claro sintoma da falência das instituições. Vivemos um tempo de alerta. Um olho no futuro, via avanços tecnológicos, outro no retrocesso das conquistas sociais e dos direitos do cidadão.