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O calvário de um palmeirense

"O principal é fazer história, não escrevê-la" (Bismarck)

01. O salto de 15 pontos de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de intenção de votos, divulgadas nesta semana, não estava nos planos dos mentores da campanha eleitoral de José Serra, o candidato oficial. E, a partir daí, a interpretação desses índices — Lula estaria com algo em torno de 42 por cento, enquanto Serra, Garotinho e Ciro Gomes dividiriam o segundo lugar com percentuais entre 14 e 17 por cento — põe em polvorosa o tal plano de ação que permitiria ao tucanato e aves de plumagens diversas permanecer no Poder por 20 anos, no mínimo…

02. A bem da verdade, o nome do palmeirense José Serra nunca foi consenso nas hostes do PSDB. Há quem diga que o ministro da Saúde sempre trilhou caminho próprio dentro do partido e do Governo. Não que tenha encontrado muitos corintianos felizes com os títulos conquistados nesses dias. Mas também não evitou alguns confrontamentos com o pessoal de outras agremiações como o Partido da Frente Liberal (PFL) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) — que enfeixavam a base governista — principalmente com os malanistas, aqueles que rezam pela cartilha do ministro Pedro Malan. Não sei para que time o todo-poderoso ministro torce, mas ele e Serra, embora economistas de origem, não comungam das mesmas idéias. E, há muito, não dividem a mesma arquibancada em jogosoficiais.

03. Malan, como todos sabem, é o interlocutor do Governo junto ao sistema financeiro internacional, homem de confiança de FHC e do próprio Fundo Monetário Internacional. Serra não apostaria, dizem os analistas, todas suas fichas nessa relação de subserviência aos interesses internacionais.

04. Pode-se até discutir se a postura desenvolvimentista de Serra — que apoiaria a globalização, mas dentro de parâmetros sociais mais acurados — não passa de jogo de cena para a torcida eleitoral. Uma firula. Um drible. No entanto, o que se pode colocar em campo — tema atualíssimo, diga-se — é a viabilidade dessa candidatura perante a opinião pública e, sobretudo, diante de seus pares.

05. Os eleitores não confiam em Serra porque vêem nele a continuidade do Governo FHC e o zero que este representa em termos de políticas públicas. Se no discurso e nas incursões internacionais foi notável o desempenho presidencial, em termos de conquistas sociais a turma de Brasília levou o País a um beco estreito, com saída difícil para os próximos anos. As privatizações, feitas a preço de banana e sempre sob suspeição, deixaram setores importantes nas mãos de multinacionais. A miséria aumentou consubstancialmente e fermentou o caldeirão de problemas nas áreas de saúde, habitação, educação, segurança e trabalho. Conclusão: o Brasil do Real não é melhor do que o Brasil da inflação e a gente percebe isso no dia-a-dia de cada um…

06. Junto ao seus pares, Serra também não passa pegada para virar esse jogo. E tal e qual o presidente de seu clube do coração, o acusam de personalista e desagregador. Chegam a comentar que o episódio Roseana Sarney e Polícia Federal foi articulado por membros de sua equipe. Nada é oficial, mas o simples comentar já demonstra que muitos na base governista prefeririam comprometê-lo em prol de outro nome na esfera presidencial.

07. Por isso não me surpreendi com a revelação do médico José de Aristodemo Pinotti feita, nesta semana, a Gazeta do Ipiranga. Tudo leva a crer que se prepara um golpe branco, disse o ex-secretário agora no PMDB independente (que não apóia o Governo). Não é exagero supor que o nome de consenso guardado no bolso do elegante paletó do presidente não é outro senão o do próprio presidente… De quaquer forma, ainda há muito jogo pela frente…