"A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem." (Montesquieu)
01. Na tarde de quinta-feira da semana passada, o prefeito Celso Pitta quebrou uma tradição de quase 30 anos ao nomear o novo administrador regional do Ipiranga. Desde o início dos anos 70, quando ocupou o cargo o engenheiro Rafael Lomonaco, só são designados para a função pessoas que vivem e/ou trabalham na região do Ipiranga. Foi por essa, digamos, conquista das entidades locais que sucederam-se à frente da AR nomes de ipiranguistas ilustres como Alfredo Rossi, Osvaldo Giannotti, Adão Benedito, Laerte Toporcov, Durval Freire, José Perondi Netto, José Bovis, Anízio Batista, Alfredo Ennser, Domingos Dissei, Alcides Gasparetto e ultimamente João França Neto.
02. Explique-se logo. Não se trata de uma lei perene, com o aval dos deuses. Nada disso. É apenas uma convenção que se guia sempre pela lógica. Quem conhece a região pode melhor administrá-la.
03. A decisão de Pitta, um dia depois da votação para abertura do processo do Impeachment na Câmara Municipal, causou estranheza. Foi entendida por todos como uma retaliação ao vereador Domingos Dissei que votou pró-comissão processante e assim se posicionou desde que a OAB protocolou o pedido de Impeachment na Câmara Municipal. No Palácio das Indústrias, sede da Prefeitura paulistana, informações oficiosas davam conta que o prefeito ficou indignado com o voto de Domingos Dissei até porque ele foi o único vereador a ocupar o cargo de secretário na atual gestão.
04. A versão oficial, divulgada pelo assessor de Comunicação Social, Antônio Braido, é de que a exoneração de João França Netto foi uma medida administrativa e não teve qualquer cunho político. Disse mais: o prefeito não se pronunciaria sobre o assunto e não há qualquer fundamento nas notícias de que Pitta estaria preparando retaliações contra os vereadores governistas (outro alvo seria Toninho Paiva) que votaram contra ele.
05. Já o vereador Domingos Dissei demonstra tranqüilidade ao abordar o assunto. Diz que votou conforme suas convicções e que a abertura das investigações só vai dar uma chance maior para o prefeito apresentar sua defesa. Ressalta que não indicou França Neto para o cargo de regional e que, enquanto secretário das ARs, sugeriu ao prefeito que todos os administradores fossem funcionários de carreira. França Neto assumiu nessa época junto com outros 14 regionais. O cargo é do prefeito — enfatizou Dissei. Ele que nomeou, ele que demitiu.
06. Dissei prefere não comentar. Mas, o relacionamento com o prefeito Celso Pitta, embora cordial, já não é o mesmo desde que saiu da Secretaria das Administrações Regionais em setembro do ano passado. Como secretário, Dissei demitiu 91 servidores, todos indicados por vereadores, e afastou mais 109 que estão em processo de averiguação administrativa. Além do que não impôs qualquer restrição às investigações da Polícia e do Ministério Público na época da CPI da Máfia das Regionais. Naquela ocasião, o prefeito foi pressionado por outros vereadores para cortar Dissei que atrapalhava a atuação dos vereadores nas regionais.
07. Distantes das questões políticas e partidárias, representantes de entidades locais estiveram no fim da tarde de segunda-feira na sede da AR Ipiranga. Foram conhecer o novo regional José Tibério Hidalgo Gonçalez. Todos entendem que o momento político em São Paulo é bastante delicado. Mas, em função do ano eleitoral, seja como for, o bairro não pode sair perdendo em termos de obras e qualidade de vida.
08. Mais uma vez, o Ipiranga dá exemplo de união. Uma união que, aliás, será mais do que necessária. Além do regional, foram demitidos pelo prefeito outros dezesseis funcionários de órgãos municipais no bairro. Não escapou sequer o competente e dedicado Inácio, administrador há oito anos dos jardins do Parque da Independência. O prefeito certamente não o conhece. Inácio pouco sabe de Pitta. Ele não é contra, nem a favor do Impeachment. E — sempre foi e será — pelas flores que dão boas vindas a quem chega ao Ipiranga… Seja bem-vindo, pois, Gonçalez.