Disse certa vez o Poeta ao repórter:
“Há uma época de ler e outra de reler, não é? Pois estou numa época de desler. A gente quando começa a vida quer decifrá-la através dos livros. Quando era adolescente, me lembro, devorei todo o Dostoieviski, tomei indigestão de tudo o que era filósofo e depois descobri, quase em 10 mil anos de pensamento humano, gente tão boa como Sócrates que, para não citar outros mais, não resolveu os problemas do ser, não seria eu que iria resolver? Leio para me distrair, e só.”
+ Correio do Povo, novembro de 1968
Porto Alegre, Brasil.
(…)
Atirei no que vi e acertei no que não vi.
Saí atrás da nova antologia sobre Mário Quintana (1906/1994), com o título de “O Segundo Olhar”, organizada pelo escritor paulista João Anzanello Carrascoza lançada no início do mês e não encontrei.
Os simpáticos lojistas foram bem honestos comigo:
– Ainda não está disponível na loja física. Quem sabe na internet?
Prometi conferir.
Antes, porém, passei num sebo perto de casa – e vejam que belo achado!
(…)
Tenho agora, em mãos, um exemplar de Mário Quintana,Vida e Obra, uma antologia sobre o aniversário de 70 anos do Poeta, organizada por Nélson Fachinelli e publicada em 1976.
Eu o encontrei por acaso.
O rapazote do sebo generalizou meu pedido:
– Quintana, Quintana, Quintana… Serve este aqui?
Pronto aconteceu o encontro – e o encantamento.
Tudo o que diz respeito a Quintana me encanta.
Não só a mim, penso.
Vejam o que um tal de Érico Veríssimo escreveu na ‘orelha’ do livro raro…
(…)
Conheço Mário Quintana há uns bons 40 anos. É o sujeito mais diferente que tenho encontrado na vida. Antes de tudo é um poeta e ser poeta não é só fazer versos, prosa com rima (carvão-coração… carinho-passarinho… etc…). Ser poeta é saber ver o mundo como o veem os anjos, as fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de comunicar a quem o lê o que ele (poeta) vê e sente; em resumo, é ter olhos para revelar a face secreta das coisas e das pessoas.
Quintana é um homem que caminha sozinho, como aquele gato do conto inglês.
Bom, vou revelar a vocês um segredo.
Descobri outro dia que o Quintana é um anjo disfarçado de homem.
Às vezes, quando ele se descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora.
(Ah! Como anjo, seu nome não é Mário e, sim, Malaquias).
E se alguém um dia perguntar quem é Mário Quintana, podem responder sem medo de errar que ele é um dos melhores poetas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem gosta dele como um irmão, um tal de…
Érico Veríssimo
(…)
Ainda não li os livros, nem o novo, nem o antigo, mas prometo fazê-lo em breve e certamente outros posts/crônicas nascerão a partir da leitura deste escritor único, imprescindível e sempre atual.
Porque os tempos andam assim-assim, entre o incerto, o duvidoso e o improvável, nunca é demais recorrer à poesia… Um viva a Mário Quintana, poeta humanista brasileiro!
O que você acha?