Oi, Laura…
É um prazer ler você aqui,
neste voluntarioso site/blog.
Fico muito honrado mesmo.
Não a conheço. Mas, sei que você descende de uma fina estirpe de jornalistas que fez parte da construção da imprensa comunitária da Grande São Paulo. E, modestamente, permita-me, também da minha formação profissional.
No post que deixou ontem no artigo “Jornal de Bairro. Um sonho que ainda não terminou” (vide o ícone Os Mais Recentes Comentários), você me conta que é neta do jornalista Antônio de Oliveira Marques, pede notícias de Araci Bueno e a quantas anda a Gazeta do Ipiranga, jornal que o Marques e a Araci fizeram florescer às margens plácidas do Ipiranga, a partir de 1961.
Diz também que essas informações vão matar a curiosidade do seu pai, filho do Marques, que hoje está com 66 anos. Há muito vocês estão fora de São Paulo e não têm informações sobre o jornal que era a vida do velho Marques.
Antes de lhe responder, quero me situar e dizer da minha emoção em lhe ver aqui. Conheci muito seu tio o Antônio Carlos, o trepidante AC, que também já está no andar de cima. Ele foi meu primeiro editor – e era mesmo uma figuraça. Também trabalhei por uns tempos com o outro tio, o Ivan, da Gazeta de São Bernardo. Conheci brevemente sua tia que, se não me engano, é médica e o seu pai – não recordo o nome – que um dia nos visitou no Ipiranga, pois estava de partida. Ia morar no Mato Grosso.
Como vê, me sinto jornalisticamente quase da família. Afinal, fiquei em Gazeta do Ipiranga, como continuador da obra de seu avô e tio, por 28 anos.
Tentei lhe responder ontem mesmo via email. Mas, em vão. As mensagens voltaram. Então, tomei a liberdade de usar este espaço para lhe dar as informações pedidas e matar a saudades do mais antigo dos anos.
Mas, vamos às informações que me pede. Saí da Gazeta do Ipiranga, em 2003. Desde então tenho poucas notícias dos que ficaram. Sei que o jornal já viveu dias melhores. Mas, continua firme e forte, com periodicidade regular e mandando seu recado pelas bandas do tradicional bairro do Ipiranga. Importante: com a dona Araci Bueno a frente do riscado e apoio de familiares e funcionários dedicados, alguns, como o Maucir, da Publicidade, ainda do tempo do Marcão e do AC.
O endereço é o mesmo: o casarão da rua Bom Pastor 1557 que ora está azul, ora está marrom. Como não passo lá há muito tempo, não posso lhe garantir a cor atual. O telefone, conferir na lista, é o mesmo 2272-9311.
Bem, Laura é isso…
Só mais um bocadinho de prosa.
Olha, as coincidências da vida! Hoje vou dar aula para estudantes de jornalismo, na disciplina de Comunicação Regional. Contarei um pouco da história dos jornais de bairro paulistanos. Vou falar da Araci, como grande empresária. Do Ari Silva, da Gazeta da Zona Norte. Do Hirão Tessari, da Gazeta da Vila Prudente. Do seo Durval Quintiliano, da Gazeta de Pinheiros. Do pessoal da Gazeta de Santo Amaro, onde começou o melhor repórter brasileiro, Ricardo Kotsho. Do AC, do Zé Jofre, do Nasci e, principalmente, do velho Marques, todos da Gazeta do Ipiranga.
A história do jornalismo brasileiro passa por esses nomes ilustres que, para nós, que tivemos o privilégio de conhecê-los, são e serão inequecíveis.
Ah!, sempre que puder, apareça por aqui. Vira-e-mexe conto um causo daqueles tempos. É um jeito meu de temperar o hoje com os personagens de ontem. Olhe, e quando esse pessoal se reunia, não havia espaço para a tristeza.
Lembro o dia em que fomos todos à inauguração de uma churrascaria na divisa entre a Vila Prudente e o Ipiranga. O rodízio de carnes era uma novidade. Lá estávamos em uns sete ou oito. Marques, Nasci, AC, entre os convivas. Depois de nos assistirem a passar em revista três ou quatro vezes todos os tipos de carnes, os garçons já não aguentavam nos servir. Foi quando um deles resolveu nos apresentar a conta para nos afastar dali, que o prejuízo era grande.
Foi o que bastou para o AC tomar a palavra e decretar em tom solene, e irrevogável:
— Só um detalhe, amigo. Antes, o senhor, por favor, troque as toalhas de papel da mesa. Dê uma geral nas bebidas. E prepare a tropa. Pois vamos começar tudo de novo…
Tão cedo não voltamos àquela churrascaria. Também se voltássemos, temo que não nos deixariam entrar. E com justa razão…
[Texto publicado no livro "Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões"]