— Pois fique.
Ela falou sem medir o quê acabara de dizer.
Désirée conhecera a pouco o tal paulistano que estava há três ou quatro dias em Salvador.
A trabalho, ele lhe disse.
(Ela não estava assim tão interessada.)
Mas achou bonitinho mostrar certo desprendimento com as coisas do mundo.
Baiana, taluda, cabelos lisos, olhos verdes e nome afrancesado, com dois acentos (frescura do pai amante de cinema),ela era só sorrisos e ‘deixe a vida me levar’ naquela noite de sábado ruidosa e festiva no Farol da Barra.
II.
O paulistano, de nome Tiago, alternava alegria e tristeza.
Confessou que partiria no dia seguinte, por isso a convidou para dar umas voltas pela orla baiana.
Désirée estava de bobeira no saguão do hotel, por força de um compromisso profissional – onde, aliás, se conheceram.
Finda a reunião (chata que só), um papinho tolo, sem compromisso e surgiu o convite para acompanhá-lo que ela aceitou – por que não?
III.
Ao acaso, decidiram entrar num desses quiosques de praia.
Como velhos conhecidos que não eram, conversavam sobre o lá e o aqui.
Na verdade, na verdade, só ele falava – e como falava…
Estava feliz, como disse.
Só se entristeceu quando lembrou que partiria.
— Pois fique.
Ela disse sem pensar. Só se deu conta da frase quando os olhos dele a fitaram demorada e sonhadoramente.
IV.
Hoje, tanto tempo depois, um sequer lembra o rosto do outro.
Mas, vá entender as razões das coisas invisíveis. Sempre que anda pela praia, não é raro Désirée olhar para o quiosque e resgatar aquele momento.
Arrisca até um palpite:
— Seria divertido.
V.
Em outro ponto do Planeta, em meio as atribulações da metrópole e os desvarios dos amores perdidos, ainda hoje Tiagão se pergunta, com ares de sonhador inveterado:
— O que teria acontecido se eu tivesse ficado?
VI.
Como diz a canção, a vida é um longo e sinuoso caminho…
Há que se viver em toda intensidade,