Severino Filho morreu ontem aos 88 anos, no Rio de Janeiro.
Não creio que a meninada de hoje saiba quem foi este extraordinário músico, cantor e arranjador.
Lamento profundamente por eles e pela sobrevivência do que entendo ser o mais reluzente filão da nossa cultura: a música popular.
Severino, entre outros tantos feitos, foi o bandleader do mais importante grupo musical da história da bossa nova e da própria MPB: os Cariocas.
Participou da fundação em 1946, e se manteve até o fim como o único remanescente da formação original.
Sua filha, a atriz Lucia Veríssimo, disse ontem à imprensa que, mesmo nesse período de internação, o músico reunia o grupo no quarto do hospital para ensaiar os clássicos do repertório como “Garota de Ipanema”, “Minha Namorada”, “Primavera”, entre outros.
II.
Eu o entrevistei – a ele e ao grupo, ainda em sua formação original, creio – há muitos anos. Eles se apresentariam em uma aconchegante casa de espetáculo em Pinheiros, chamada Ópera Room, alguém se lembra?
Estavam entusiasmados. Pareciam meninos diante de uma apresentação de estreia.
Esse fato me impressionou. Já eram senhores, com invejável carreira e renome internacional. No auge da bossa nova, anos 60, andaram pelos Estados Unidos e Europa, trabalharam como músicos famosos e o talento do grupo foi amplamente reconhecido.
Eu era um jovem repórter – um pouco mais que isso, talvez – e logo entendi que o amor pela arte os movia e se deliciavam em professá-la.
III.
Lembro-me que, por aqueles dias, relia algumas crônicas do grande Rubem Braga (citei-o ontem; volto hoje a citá-lo; seus textos são eternos) e, numa delas, me deparei com o seguinte pensamento:
“Glória ao padeiro que acredita no pão”.
Juro que a sensação que tive foi a de que o cronista havia escrito a frase após assistir a um dos shows de Severino Filho e os Cariocas.
Nem sei lhes dizer se foi sensação ou devaneio. Mas, para mim, fez todo o sentido.
IV.
Volto às primeiras linhas deste post.
Lamento profundamente que a meninada de hoje não conheça Severino Filho, nem seu legado musical.
O Brasil perdeu um de seus grandes artistas.