Era a primeira vez que o garoto Tchinim ia a um estádio de futebol.
Jogavam Palmeiras e XV de Piracicaba.
O Parque Antártica, em sua primeira versão, tinha alambrado – e quando o jogador cobrava o escanteio ficava a um palmo diante dos olhos dos torcedores que ali se postavam.
Por isso, o menino, mesmo depois de adulto, nunca esqueceu o vulto daquele homem de tez suada que se aproximou para bater na bola, ali, tão pertinho dele.
Tinha os olhos levemente puxados, e envergava a camisa 11.
— Este é o Chinesinho, filho. Nasceu no Rio Grande do Sul e vai ser o sucessor de Ênio Andrade. Quer apostar?
As palavras do pai sempre tiveram peso de verdade.
Não tardou e o também gaúcho Ênio Andrade encerrou a carreira de atleta para ser um dos mais festejados técnicos de futebol brasileiro.
Chinesinho, então, passou a ostentar a camisa 10 e a ser o meia-armador do Palmeiras.
Logo era considerado o melhor do time – supercampeão paulista de 1959, diante do Santos de Pelé & Cia.
Três ou quatro anos depois, veio a notícia que fez o garoto perder o chão.
O craque dos olhos puxados seria vendido ao futebol italiano.
Vendo a tristeza do filho, o pai tratou de se fazer profético:
— Futebol é assim mesmo. Com o dinheiro que o Palmeiras arrecadou vendendo o Mazzola para a Itália, compramos um time inteiro e logo fomos campeões. Quer apostar que agora vai acontecer a mesma coisa?
Dito e feito.
Em 1963, o Palmeiras foi campeão paulista, derrotando o Noroeste de Bauru na última rodada da competição.
Nas comemorações, um rojão estourou junto a perna do pai, que costumava ver o jogo do alambrado, enquanto o filho assistia da arquibancada, com primos e amigos.
De volta para casa, mesmo com a perna enfaixada, o seo Aldo estava radiante:
— A camisa 10 do Palestra caiu como uma luva para esse menino Ademir da Guia.
É craque. Ele vai fazer história no clube. Quer apostar?
Tchinim pensou em retrucar: dizer que, se jogassem juntos, Ademir e Chinesinho fariam do Palmeiras um time imbatível.
Preferiu, no entanto, ficar quieto.
O pai era louco por uma aposta – e, pior, ganhava sempre…
• Sidney Colônia Cunha, o Chinesinho, morreu no sábado (dia 16), na cidade de Rio Grande (RS).