Tenho lá minhas fraquezas, confesso.
Há músicas que me derrubam nos primeiros acordes.
Não sei de onde vem tamanho sentimento. Menos ainda como identificá-lo. Por instantes, fico sem chão, e sei lá em que dimensão.
Acontece com você?
II.
Ontem, foi assim.
De surpresa, o rádio do carro tocou uma velha canção do passado
“Traga-me um copo d’água
Tenho sede.
E essa sede pode me matar
Minha garganta pede um pouco d’água
E os meus olhos pedem o seu olhar…”
Conhece? Trata-se de “Tenho Sede” na interpretação pungente de Gilberto Gil.
III.
Diminui a marcha veículo, peguei a pista da direita – e saboreei lentamente cada acorde, cada verso da melodia de Anastácia e do inesquecível Dominguinhos.
É uma toada, creio eu. Delicada, e sutil; mas que, desde a primeira audição, me envolveu plenamente.
(E ainda hoje é assim).
IV.
“A planta pede chuva
Quando quer brotar
O sol logo escurece
Quando vai chover…”
Vá entender de onde vem tamanha emoção?
“Meu coração
Só pede o seu amor
Se não me deres
Posso até morrer…”
V.
Tenho carinho especial por Gil e uma saudade danada do saudoso Dominguinhos.
Como repórter, a escrever para os cadernos de Cultura e os veículos especializados, acompanhei a luminosa carreira de ambos. Cheguei, inclusive, a entrevistá-los algumas vezes e, invariavelmente, saí enriquecido desses bate-papos.
VI.
Considero Gil um ser humano raro. De argumentos múltiplos e fala fácil e engenhosa. Como compositor, um dos grandes gênios da nossa música popular. Dominguinhos, o homem simples, generoso. De um talento ainda a ser reconhecido como se deve, mesmo tantos anos após a sua morte precoce.
São artistas de obra perene.
Que sabem falar à alma dos sonhadores e de figurinhas perdidaças como eu.
VII.
Queria dar outro rumo à crônica de hoje.
Os assuntos estão todos aí. Basta olhar as tristezas do noticiário do dia. Não me sinto à vera para ser mais um a comentá-las.
Por isso, compartilho (é assim que se diz?) com vocês este momento pessoal e ainda agora, para mim, mágico e indizível.