Só me dei conta de que o outono havia chegado quando, semanas atrás, olhei pela janela e não vi o caminho que corta o extenso gramado, repleto de árvores, em frente ao prédio onde trabalho.
A cena chegou a me tocar – por tudo e por nada.
O calçamento de pedras miúdas, justapostas, da trilha desapareceu coberto pelas folhas que caíram tocadas pelo vento daquela manhã.
Por instantes, troquei os afazeres do dia – e a bendita tela do computador – para acompanhar o voo inapelável das folhas que buscavam o irreversível destino.
Deu vontade de largar o que fazia para dar uns passos sobre aquele tapete natural, e belo.
Ainda hoje lamento não ter vivido a experiência.
Por que lhes conto isso?
Por força e circunstâncias do cargo que ocupo, participei ontem, em dois momentos, de encontros com jovens que almejam fazer carreira em Jornalismo.
Falei aos estudantes secundaristas da Chapel School pela manhã e, à noite, aos primeiros anistas do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo.
Como de hábito, faço uma apresentação de dez ou quinze minutos, e depois abro o microfone para perguntas.
Nove entre dez indagações buscam saber um tanto mais sobre minha carreira.
O que fiz? O que deixei de fazer? Quem entrevistei? Quem não consegui entrevistar? Qual o fora que dei? Qual minha melhor matéria – e por aí vão.
Não sou referência de nada a ninguém.
Mas, me sinto bem à vontade em falar a essas pessoazinhas, de olhos brilhantes e sonhadores.
É como se estivesse à janela num dia claro de outono.
Nesses momentos, revejo os fatos – marcantes ou não – da minha modesta trajetória no jornalismo e na vida, no ritmo das folhas que despencam.
Gosto desses encontros.
É como se refizesse o caminho – e, placidamente, me sinto feliz.