Ainda sobre nossa conversa de ontem, convido meus cinco ou seis amáveis leitores a conhecerem o outro personagem da história que lhes contei.
Por um desses casos do acaso, conheci AC quando ele e Naná, a mulher da sua vida, já não estavam mais juntos.
Era bem quisto na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, onde trabalhamos.
Era um dos nossos, embora preservasse certo distanciamento da turma – talvez fosse em função da idade (tinha uns dez anos a mais), talvez fosse pela personalidade ou mesmo pelo estilão de ‘lobo solitário’ que escolheu fazer naquela fase de sua vida.
Esporadicamente participava dos ruidosos pós-expediente, das noitadas que o pessoal engendrava. Mas, no dia seguinte, se divertia a ouvir as venturas e desventuras dos amigos na implacável ronda pelos bares.
Aliás, era de sua preferência ouvir mais e falar menos, salvo se o assunto fosse jornalismo que alguns diziam ser sua segunda grande paixão.
Nunca ousei perguntar qual seria a primeira.
Hoje, posso imaginar qual (ou quem) seria…
Bem-humorado na maioria dos dias, tinha lá um jeito triste de sorrir e de tocar a vida.
Quando a conversa descambava para um tema m ais pessoal, era enigmático, gostava de generalizações e, via de regra, fechava questão sem fazer qualquer tipo de juízo de valor. Dizia-se versado e proseado no lema ‘viva e deixe viver’.
Mais de uma vez, eu o ouvi definir o amor como ‘um infinito desassossegar-se’.
— É como caminhar sobre brancas nuvens…
Talvez pensasse em Naná nessas horas.
Aliás, é certo que pensava em Naná.
Explico o porquê.
Em outras ocasiões, quando lhe perguntaram o dia de seu aniversário, eu o vi afirmar, com sorriso vitorioso:
– A data oficial não tem lá grande importância. Mas, coloque aí, para a vida, eu nasci em um inesquecível 20 de setembro.