O vice-presidente Michel Temer já dá entrevistas como se fosse o tal. O Pimpão do Bairro Peixoto, se é que conhecem a expressão, aqui levemente adaptada. Com ele, haverá diálogo, entendimento e todos seremos felizes para sempre.
Inclusive, alguns coleguinhas, jornalistas, estão a sorrir de orelha a orelha, diante do iminente desfecho da novela “Virada de Mesa” em cartaz desde os primeiros instantes em que as urnas derrotaram Berlusconi Júnior e sua intrépida trupe, nos idos de 2014.
Enfim…
Mas, não é essa a história que quero hoje lhes contar.
Prefiro falar de um centro-avante habilidoso que vi jogar nos meus tempos de garoto, no valoroso Estádio Distrital do Jardim da Aclimação. Chamava-se Espanhol e fazia dupla de área com outro craque de bola, o Queiroz, no ataque do imbatível (aos meus olhos de menino) Santos Futebol Clube do Cambuci.
Melhor do que o Espanhol naquele onze inesquecível, só o meu cunhado, o Waltinho, titular da lateral esquerda e o meu grande ídolo no mundo da bola. Mas, isso é uma outra história que aqui já contei (na crônica “Nos Tempos da Chuteira Olé”, entre outros textos) e voltarei sempre que a saudade falar mais alto.
Voltemos ao Espanha.
Só quero mesmo lembrar um fato que ocorreu após uma partida (não recordo o nome do adversário) em que o Santos ganhou e o Espanhol marcou três gols. No bar da rua Piaí (atual Miguel Telles Júnior), onde se localizava a sede do clube, inclusive a gloriosa prateleira de troféus, todos comemoravam e elogiavam o artilheiro do time.
Em um dado momento, ouviu-se uma voz a discursar e, em meios a tantos elogios, alguém definiu o Espanha como um ‘oportunista com incrível faro de gol’. Homem de poucas palavras e muitos gols, o craque venceu a timidez e agradeceu a todos. Só fez a ressalva de que amava jogar futebol – e só. Era feliz ali. Pediu então que, por favor, não o chamassem de “oportunista”, pois a palavra trazia em si uma energia ruim. Podia simbolizar também ‘aproveitador’, ‘pouco confiável’, ‘individualista’ – coisa que não era e, por Deus, não gostaria de ser.
Volto ao começo da nossa crônica – e posso lhes jurar que, àquela época, nem o Espanhol, nem eu, ouvíramos falar num tal de Michel Temer…