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Valdemar Carabina

Era menino e o chamavam de Tchinim quando foi pela primeira vez a um estádio de futebol.

No domingo, tantos e tantos anos depois, ouviu a notícia no rádio e na hora veio a dúvida:

— Será que Valdemar Carabina estava em campo naquele dia.

O velho Parque Antarctica ainda não passara pela reforma que o transformou em Jardim Suspenso. Jogavam Palmeiras e XV Piracicaba pelo Campeonato Paulista de 1958 – o jogo que marcou a despedida dos gramados de Waldemar Fiume, dedicado half esquerdo, como dizia o pai, que jogou por 16 anos pelo Palestra Itália, a única camisa que vestiu em toda sua carreira de futebolista.

Tchinim tem várias lembranças daquela tarde de sábado.

A primeira é esta mesma.

Foi numa tarde de sábado ensolarado.

Na memória, ainda ouve o alarido da torcida.

Espanta-se com o chute forte de Ênio Andrade, o camisa 10.

E sente o coração saltar quando Chinezinho chega bem próximo a ele por ocasião da cobrança de um escanteio.

A saudade o faz lembrar que o campo de jogo ficava rente ao alambrado.

O Palmeiras venceu por 3 a 1.

Mas, a festa começou antes mesmo de o jogo começar.

Inaugurou-se um busto em homenagem a Fiume, o Pai da Bola.

Agora, a notícia do falecimento de Waldemar Carabina revolve o passado – e o homem barbado e envelhecido sente o peso dos anos. Do efêmero da nossa condição humana. O vigoroso zagueiro palestrino formou duplas de área inesquecíveis; primeiro, com o clássico Aldemar e, depois, na primeira Academia do Palmeiras, com o extraordinário Djalma Dias.

Anos mais tarde, quando era repórter e ninguém mais o chamava de Tchinim, chegou até a entrevistar o garboso Valdemar Carabina, então técnico do Palmeiras nos anos 80.

Mesmo triste com a perda do ídolo de infância, o homem sorri a imaginar-se o curioso Tchinim na ponta dos pés, em meio àqueles senhores de chapéu, esticando o pescoço para ver se Carabina está em campo naquela inesquecível e ensolarada tarde de sábado.

Como se fosse possível voltar o tempo, a resposta vem em forma de lembrança.

Ouve a voz do pai, paciente e brincalhão, a lhe desvendar o mistério do estranho nome daquele zagueiro:

— O Palmeiras tem dois jogadores que se chamam Valdemar. Então, para os locutores de rádio não se confundirem, um adotou o sobrenome. É o Valdemar Fiume – e o outro, aquele mais alto, juntou o nome ao apelido. Virou Valdemar Carabina.

— Ele joga armado, pai?

— Não, Tchinim, não… Mas, é como se fosse. É chumbo grosso passar por ele…

* FOTO NO BLOG: reprodução

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