"O Brazil não conhece o Brasil" (João Bosco e Aldir Blanc)
01. Todos nós, brasileiros, temos muito o que aprender em termos de democracia — e incluo aqui também jornais e jornalistas. Não poderia ser diferente. Ficamos 29 anos sem escolher um presidente pelo voto direto, período em que o mundo registrou transformações inimagináveis — econômicas, políticas e, sobretudo, tecnológicas e sociais — ao pacato cidadão do final dos anos 50.
02. Em breves linhas, o resumo da ópera é o seguinte. Na primeira década do pós-guerra, o País sonhava com a construção da capital em Brasília, inaugurada em 1960. Nossa indústria automobilística dava os primeiros passos e consolidava São Paulo como a locomotiva do desenvolvimento da Nação. A bem da verdade, essa febre desenvolvimentista — incentivada pelas correntes migratórias — não concebia transformar os grandes centros urbanos nessas megalópolis inchadas por favelas, superpopulação e miséria. Em termos culturais, assistia-se aos primeiros passos da bossa-nova e à fermentação de um sólido movimento de intelectuais que gerou, anos depois, o cinema-novo e grupos teatrais como o Oficina e o Arena. A televisão era para poucos e os jornais tinham, quando muito, 20 páginas e sobreviviam heroicamente da venda em banca. Numa frase, acreditava-se que o Brasil era o País do Futuro.
03. Em 1989, quando retomamos o inalienável direito de escolher o presidente pelo voto direto, o Brasil e o mundo eram outros. Havia ruído o Muro de Berlim e o desmoronamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas punha fim à chamada Guerra Fria e a bipolarização — bem e mal, capitalismo e comunismo, americanos e soviéticos — que regia os destinos do Planeta. No Brasil, a palavra de ordem era modernidade, precursora da globalização que se consagrou nesses insidiosos tempos neo-liberais. A televisão fazia e acontecia e consagrou como salvador da pátria um tal de Caçador de Marajás. Embarcamos nessa canoa furada, e nos demos mal.
04. O Impeachment nos deu alento para sair daquele enrosco. E o Plano Real, queiramos ou não, empurrou o monstro da inflação para dentro da caverna com a estabilização da moeda e o fim da ciranda financeira. Esse Milagre Brasileiro 2 reacendeu nossas esperanças e contemplou com a vitória — em duas eleições consecutivas — um de seus protagonistas, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Claro que nessa jornada nem tudo foram flores. Entre o discurso e a prática, revelou-se um País sem prumo, desgovernado. À mercê de interesses internacionais, com enorme contingente de desvalidos. O Real perdeu a força, mas se manteve como eficiente instrumento eleitoral.
05. A realidade hoje, creia, nem a cumplicidade da TV consegue esconder. É a que vemos nas ruas: a violência, o poder paralelo, o dólar a 4 reais, o FMI, o tal do Risco Brasil, o desemprego, a exclusão social, a desesperança… O brasileiro precisa resgatar o poder de sonhar e acreditar. Votar é o primeiro passo de nossa participação social. Ao longo desse ano, os candidatos puderam mostrar seus projetos de governo para toda a sociedade no rádio, TV, jornais, entidades e associações. Em debates, seminários, horário eleitoral, entrevistas… Agora, é a hora de votar com consciência, clareza e objetividade. Vamos às urnas, neste domingo, com o propósito de fazer um Brasil de todos os brasileiros. Que Deus nos ilumine!